O Polo Petroquímico de Capuava, complexo composto por 14 indústrias, dentre elas quatro da Braskem, predispõe moradores do entorno a uma série de problemas de saúde. Diante de tantos relatos e incidência de enfermidades, que vão de doenças respiratórias a câncer, diversos estudos foram sendo realizados ao longo dos anos. Um deles, desenvolvido pela UFABC (Universidade Federal do Grande ABC) em colaboração com a USP (Universidade de São Paulo), comprova que a poluição no Polo Petroquímico é duas vezes maior que em áreas veiculares. O ar local também possui concentração seis vezes maior de um composto cancerígeno, o benzeno.
A professora e doutora Cláudia Boian, docente e pesquisadora na área de Poluição Atmosférica na UFABC, é uma das responsáveis pela pesquisa que analisou a qualidade do ar na região do Polo Petroquímico de Capuava, publicada em 2021. O trabalho avaliou a presença de COVs (Compostos Orgânicos Voláteis), responsáveis por cerca de 70% do total de poluentes atmosféricos em áreas industriais, dos quais se destacam os chamados BTEX (Benzeno, Tolueno, Etil-Benzeno e Xilenos).
Para ter um parâmetro de comparação, e definir se o ar da região do Polo Petroquímico está mais poluído, foi feita uma medição do ar atmosférico do Polo de Capuava, impactado pelas emissões das indústrias, e outra na UFABC, cuja poluição vem predominantemente das emissões veiculares, já que a universidade está próxima da Avenida dos Estados, onde há trânsito intenso – os carros também emitem os chamados BTEX.
“No Polo, a contribuição é mais industrial e confirmamos uma presença dos BTEX e o cis-2-hexano duas vezes maior que na área veicular. Fizemos medições de manhã, de tarde e à noite, e conseguimos perceber picos noturnos na concentração de benzeno, em um horário em que não há grande fluxo de veículos, ou seja, não é característico de veículos, vem de fonte industrial, que faz emissões contínuas”, explica Cláudia.
Os compostos denominados BTEX, além de serem emitidos diretamente das chaminés das indústrias no ar, também dão origem ao ozônio, produzido a partir de reações químicas na presença da luz solar. O ozônio, segundo a pesquisadora da UFABC, também é um poluente que causa danos à saúde, especialmente às vias respiratórias.
CANCERÍGENO
Entre estes compostos, a professora Cláudia Boian destaca o benzeno (amplamente utilizado como matéria-prima na produção de diversos produtos, incluindo componentes de combustíveis derivados do petróleo) por ser um composto cancerígeno. Ela explica que utilizando como parâmetro comparativo a recomendação da Usepa (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos), a concentração deste composto cancerígeno no ar do entorno do Polo Petroquímico de Capuava é seis vezes superior à recomendação.
“Essa concentração mostra que a saúde da população desta região pode ser afetada negativamente. O benzeno é classificado como um carcinógeno do Grupo A para seres humanos, o que significa que pode causar danos ao sistema imunológico quando há exposição a longo prazo”, avalia a especialista.
COMPARATIVO
Ao comparar dados de monitoramento de benzeno da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) de 2023 em regiões com atividades industriais de refino de petróleo – Santo André, Cubatão, São José dos Campos e Paulínia – e área de poluição de fontes veiculares, como a Marginal Tietê, em São Paulo, observa-se que Polo Petroquímico de Capuava apresenta maior emissão de poluentes, de acordo com Cláudia. As áreas de poluição veicular apresentam médias anuais próximas ao valor de referência para o benzeno da União Europeia, enquanto o Polo Petroquímico do Grande ABC tem o dobro do limite recomendado.