O Diário registrou, ao longo da década de 1980, a cobertura de dois dos mais marcantes acidentes nucleares do período: o colapso do reator de Chernobyl, em 1986, e o acidente com o Césio-137, ocorrido em Goiânia no ano seguinte.
Em 26 de abril de 1986, um teste inadequado de baixa potência no reator número quatro da usina nuclear de Chernobyl, na então União Soviética – região que hoje corresponde à Ucrânia – levou à perda total de controle do sistema. A explosão seguida de incêndio destruiu o prédio e lançou enormes quantidades de radiação na atmosfera. O Diário noticiou o episódio em manchete sob o título ‘Mortos na URSS podem ser dois mil’.
Trecho da matéria trouxe a informação que Chernobyl não teria sido o primeiro acidente nuclear no País. “A rádio Moscou admitiu que o gigantesco acidente no complexo nuclear de Chernobyl não foi o primeiro na história nuclear soviética. ‘O desastre foi o maior em mais de 30 anos’”, revelou o texto.
Considerado o pior desastre nuclear da história, a usina liberou quantidade de material radioativo equivalente a 400 vezes a da bomba lançada sobre Hiroshima. Milhares de pessoas foram evacuadas, e a zona de exclusão de 30 quilômetros permanece inabitável até hoje. Cerca de 50 mortes foram diretamente atribuídas ao acidente, mas estudos de organismos internacionais, como a Agência Internacional de Energia Atômica e a OMS (Organização Mundial da Saúde), apontam para inúmeros óbitos posteriores relacionados à exposição. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), 8,4 milhões de pessoas em Belarus, Rússia e Ucrânia foram afetadas pela radiação.
Duas décadas depois do colapso do reator, em 2006, um memorial foi instalado no centro de Chernobyl com os nomes das localidades incluídas na zona de acesso restrito.
Na região que circunda a usina nuclear, as restrições de habitação continuam rígidas quase quatro décadas após o desastre. Na zona mais próxima ao reator, o acesso é controlado e não há moradores permanentes, devido ao alto risco de exposição à radiação.
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Já na área mais afastada, localizada entre 10 e 30 quilômetros da usina, vivem atualmente cerca de 600 pessoas. Desse total, aproximadamente 500 são trabalhadores que atuam em diferentes funções essenciais para a manutenção, vigilância e monitoramento da região, incluindo engenheiros, policiais, cozinheiros e ajudantes gerais.
Os outros 100 moradores são antigos residentes que, após anos de restrições, obtiveram autorização do governo para retornar às suas casas originais, retomando parte da vida que deixaram para trás em 1986.
Pouco mais de um ano depois, em 13 de setembro de 1987, o Brasil enfrentou seu próprio desastre radiológico. O acidente com o Césio-137, em Goiânia, começou quando catadores encontraram em uma clínica abandonada um aparelho de radioterapia que, confundido com sucata, foi desmontado e repassado a terceiros. A manipulação do material radioativo gerou um rastro de contaminação que atingiu centenas de pessoas.
Classificado como nível 5 na Escala Internacional de Acidentes Nucleares – que vai de zero a sete – o episódio tornou-se o maior acidente radioativo da história fora de usinas nucleares. À época, o Diário estampou a manchete ‘Aparelho radioativo contamina 46 pessoas em Goiás’, acompanhando os desdobramentos de um dos eventos mais traumáticos já registrados no País.
