‘Todo mundo quer ser meu amigo’ — CEOs do setor de tecnologia bajulam Trump | Mundo Trump faz discurso em Mar-a-Lago no dia das eleições para o Congresso — Foto: Andrew Harnik

Os líderes mais poderosos do setor de tecnologia vêm testando uma nova cartilha para seduzir Donald Trump, conhecido pelo histórico de oposição ao domínio exercido por eles: jantares pessoais.

Um fluxo constante de alguns dos maiores nomes da tecnologia — Mark Zuckerberg, da Meta Platforms, Sergey Brin, cofundador do Google, e Jeff Bezos, da Amazon.com — tem feito peregrinações ao clube Mar-a-Lago, de Trump, na Flórida, para reuniões pessoais com o presidente eleito. É uma mudança gritante em relação a 2006, quando Trump ganhou sua primeira eleição presidencial e muitos líderes empresariais optaram por manter distância e ganhar favores por meio da contratação de lobistas bem conectados.

“TODO MUNDO QUER SER MEU AMIGO!!!”, publicou Trump na plataforma de relacionamento social on-line Truth Social na quinta-feira (19).

O comentário segue a mesma linha das declarações feitas por ele em entrevista coletiva no início da semana, na qual traçou um contraste entre seu primeiro mandato, quando “todo mundo brigava”, e a situação atual, em que executivos clamam por um lugar para jantar com ele no pátio de seu resort em Palm Beach.

Trump é o primeiro republicano nos últimos 20 anos a vencer a eleição presidencial em número total de votos. Em 2016, embora tenha conquistado a Casa Branca ao vencer no Colégio Eleitoral, ele perdeu na votação total. Agora, além dos apelos por audiências privadas, ele também vem acumulando uma série de promessas de dinheiro de executivos e empresas para financiar sua festa de posse.

O presidente eleito tem sido abertamente hostil a alguns nomes do setor de tecnologia, por meio de críticas compartilhadas na Truth Social — criada por ele após ser expulso de várias das principais plataformas sociais on-line, na esteira da insurreição no Congresso dos EUA em 2021. Entre outras críticas, Trump reclamou do Facebook, por supostos preconceitos contra vozes conservadoras, e do Google, por resultados desfavoráveis em buscas na internet.

Por outro lado, Trump gosta de confraternizar com líderes empresariais ricos e bem-sucedidos, muitos dos quais também celebridades.

‘Pânico’ entre os executivos-chefes

O que motiva alguns executivos a tentar criar afinidades com Trump é a preocupação de que suas empresas, produtos ou eles próprios possam virar alvos dos recados de Trump nas plataformas sociais on-line, que o presidente eleito costuma disparar a qualquer momento, muitas vezes sem nenhuma indicação prévia.

“Acho que o termo é ‘pânico’. Esses sujeitos eram todos anti-Trump e sabem que ele tem uma ótima memória, uma enorme quantidade de energia e está bastante disposto a atacar quem ele acha ser um problema”, disse Newt Gingrich, ex-presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, em entrevista.

Na quarta-feira (18), de acordo com uma fonte, Trump, acompanhado da esposa, Melania, e do filho, Eric, jantou com Bezos e o executivo-chefe da Tesla e SpaceX, Elon Musk, a pessoa mais rica do mundo e um grande doador para sua campanha eleitoral.

Musk tornou-se peça central no círculo íntimo do presidente eleito durante a campanha e, nesta semana, usou essa influência para persuadir Trump a se opor a um acordo sobre os gastos públicos no Congresso dos EUA, que implodiu um acordo bipartidário e colocou o país no rumo de uma paralisação da máquina administrativa.

“O presidente Trump vem se cercando de líderes do setor, como Elon Musk, enquanto trabalha para recuperar a inovação, reduzir a regulamentação e celebrar a liberdade de expressão em seu segundo mandato”, disse o porta-voz de Trump, Brian Hughes, em comunicado.

Esse é o tipo de influência que os executivos de tecnologia poderiam vir a exercer se conseguirem cair nas graças de Trump. Durante o primeiro mandato do republicano na Casa Branca, Tim Cook, da Apple, teve certo sucesso ao empregar a estratégia. Em frequentes reuniões e conversas com Trump — algo que muitos outros executivos-chefes evitaram por temer represálias de funcionários ou clientes —, Cook conseguiu evitar, em grande parte, tarifas que poderiam ter resultado em grande aumento no custo de importação dos iPhones.

Diante da ameaça de novas rodadas de tarifas e do desejo de alguns círculos republicanos de reprimir as gigantes da tecnologia, os executivos-chefes e fundadores de empresa do setor veem a importância de apresentar seus argumentos proativamente a Trump e seus principais auxiliares.

Bezos foi alvo de críticas de Trump durante o primeiro mandato do republicano. Na quarta-feira (18), ele se viu à mesma mesa que Musk — uma das poucas pessoas no mundo mais ricas do que ele — e cujo serviço de internet por satélites Starlink é um dos maiores concorrentes do Projeto Kuiper, da Amazon. O desenvolvimento do serviço da Amazon está atrasado em seu cronograma e a empresa depara-se com a perspectiva de um futuro governo composto por pessoas alinhadas à SpaceX.

Demonstração de tecnologia

No fim de novembro, Zuckerberg visitou Trump e muitos de seus assessores em Mar-a-Lago. Ao longo de dois dias, a série de reuniões incluiu encontros com Susie Wiles, futura chefe de Gabinete de Trump; Stephen Miller, um assessor de alto escalão; e o senador Marco Rubio, a escolha de Trump para ocupar o Departamento de Estado. O executivo-chefe da Meta fez uma demonstração dos novos óculos inteligentes da empresa, que levam a marca Ray-Ban e se tornaram um produto prioritário para a empresa, em meio a sua investida cada vez mais profunda em inteligência artificial (IA) e nos chamados dispositivos vestíveis.

Zuckerberg deixou claro estar interessado em aconselhar Trump sobre políticas governamentais para o setor de tecnologia. Possivelmente, a Meta é a empresa que mais se beneficiaria de uma eventual proibição do TikTok, que poderia ocorrer já em janeiro. A empresa tem um produto de vídeo rival, chamado Reels, que já é popular entre os jovens e poderia receber uma enxurrada de novos usuários se o TikTok for, de fato, proibido.

A visita de Zuckerberg a Mar-a-Lago foi um passo positivo para alguém que tem sido alvo da ira de Trump ao longo dos anos. Durante a campanha, o presidente eleito sinalizou que Zuckerberg deveria ser preso por suposta interferência nas eleições dos EUA em 2020, e chamou o Facebook de “Inimigo do Povo” em março.

Brin e o executivo-chefe da Alphabet, empresa controladora do Google, Sundar Pichai, também jantaram com Trump, no início de dezembro, segundo uma fonte.

A aproximação dos executivos do Google com o presidente eleito também representa uma mudança notável na abordagem da gigante de buscas em comparação ao primeiro governo Trump. Após as eleições de 2016, Pichai e Brin, ambos imigrantes, criticaram a proposta de Trump de proibir pessoas de vários países de maioria muçulmana de viajar aos EUA ou buscar refúgio no país — Brin chegou a participar de protestos no Aeroporto Internacional de São Francisco, em janeiro de 2017. “Estou aqui porque sou um refugiado”, disse Brin a repórteres na época.

A reunião com Trump ocorreu em um momento que o Google se prepara para várias disputas contra o governo em 2025 em fronts cruciais, como as questões antitruste e a regulamentação da IA. Trump indicou diversos críticos do Google para cargos em seu governo, como Brendan Carr para liderar a Comissão Federal de Comunicações (FCC, na sigla em inglês). Carr acusou o Google de manipular resultados de busca e supostamente censurar pontos de vista conservadores.

Trump também criticou o Google, dizendo que a empresa deveria ser processada por mostrar apenas “notícias ruins” sobre ele durante a campanha de 2024. Um caso antitruste contra o domínio da gigante tecnológica nas buscas de internet, vencido pelo Departamento de Justiça no início do ano, começou durante o governo Trump. Nos últimos meses, entretanto, ele adotou um tom mais conciliatório. Em entrevista à Bloomberg News, disse achar que o Departamento de Justiça não deveria dividir o Google como parte do caso antitruste contra a empresa.

Foi noticiado que Pichai conversou com Trump pelo menos outras duas vezes nos últimos meses, inclusive após as eleições de novembro, quando parabenizou o presidente eleito pela vitória. E, em outubro, segundo Trump, Pichai lhe disse: “Você é a pessoa número 1 em todo o Google para notícias”.

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By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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