Na imagem de capa deste artigo, uma fotografia do chileno Alfredo Jaar, que ganhou o Prix Pictet 2025 com a série “The End” [“O Fim”, em português], que documenta o desaparecimento do Grande Lago Salgado, no Utah, devastado pela extração intensiva de água
NOTA DO EDITOR: “Call to Earth” [“Chamada para a Terra”, em tradução portuguesa] é uma série editorial da CNN dedicada aos desafios ambientais que o nosso planeta enfrenta, a par das soluções. A iniciativa Perpetual Planet da Rolex estabeleceu uma parceria com a CNN para promover a sensibilização e a educação em torno de questões-chave na área da sustentabilidade e inspirar ações positivas.
O Grande Lago Salgado, no Utah, está a recuar a grande velocidade. Perdeu 73% da sua água e 60% da sua superfície desde meados do século XIX à custa da extração excessiva de água. O que antes era um ecossistema fundamental – sustentando as chuvas e proporcionando habitat para milhões de aves migratórias – corre agora o risco de desaparecer completamente.
O artista chileno Alfredo Jaar documentou este desastre que está em curso. As suas fotografias atmosféricas mostram águas rasas, um solo árido e poeira tóxica. Jaar considera esse cenário “um lamento pelo nosso planeta moribundo”.
A sua série, intitulada “The End” [“O Fim”, em português], ganhou o prestigiado Prix Pictet, que é um prémio global de fotografia e sustentabilidade.
Agora no seu 11.º ano, este prémio procura concentrar-se numa questão diferente da área da sustentabilidade a cada edição. “Tempestade” foi o tema deste ano. Foram selecionados 12 trabalhos. O vencedor, Jaar, recebeu 100 mil francos suíços, cerca de 107 mil euros.
Michael Benson, diretor do Prix Pictet, conta à CNN, por email, que as tempestades se tornaram um elemento comum na vida de muitas pessoas. “É a expressão dramática do lado selvagem da natureza, amplificada de forma acentuada pelo preocupante desaparecimento de espécies nativas, a perda alarmante do gelo ártico e a frequência crescente de incêndios florestais”.
“As tempestades são também um elemento definidor do nosso tempo, em que parecemos estar sempre a suster a respiração, na expectativa de um algum horror indescritível para está para vir”.
O tema foi interpretado de forma literal pelos fotógrafos, com trabalhos que destacam o fenómeno natural das tempestades e os eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes. A fotógrafa italiana Marina Caneve analisou o impacto a longo prazo das inundações e deslizamentos de terra que devastaram as Dolomitas, no norte da Itália, em 1966, e a inevitabilidade de catástrofes futuras. Já a norte-americana Camille Seaman fotografou tempestades supercelulares, que podem produzir granizo do tamanho de toranjas.
Houve também interpretações mais metafóricas da palavra “”tempestade”, com representações de agitação política ou social. Por exemplo, a poderosa crónica do fotógrafo húngaro Balazs Gardi sobre o ataque pós-eleitoral ao edifício do Capitólio dos EUA a 6 de janeiro de 2021.
“As imagens das divisões sociais também nascem de uma noção de sustentabilidade”, refere Benson. “Por exemplo, à medida que as pessoas são forçadas a abandonar as suas casas devido ao aumento do nível das águas ou ao calor intenso, as migrações aumentam, o que, por sua vez, dá origem a divisões e discórdia social, com as quais estamos todos muito familiarizados hoje em dia”.
Embora a maioria dos trabalhos selecionados mostre devastação, deslocamento e desordem social, são também uma ferramenta com potencial para favorecer a mudança.
“Tornámo-nos cada vez mais insensíveis aos problemas causados pela crise climática global”, lamenta Benson. “Estas imagens acabam por romper essa insensibilidade, levam o debate além da linguagem, transmitem a necessidade de uma ação urgente”.
Os trabalhos selecionados estão em exposição no Victoria & Albert Museum, em Londres, até 19 de outubro de 2025. Pode vê-los também neste artigo.






