Com Gaza à beira do colapso, Israel ameaça invadir sua cidade mais populosa, forçando milhares de pessoas a fugir novamente. Sem recursos, espaço ou alternativas, palestinos como Karim Hamdan enfrentam o calor, a fome e o medo, enquanto a ONU alerta para uma catástrofe humanitária iminente.
Segundo o Financial Times (FT), enquanto o verão sufocante de Gaza assola a região castigada pela guerra, Karim Hamdan, um comerciante de 52 anos, vive em condições extremas, dormindo ao relento e lutando diariamente por água. Deslocado nove vezes, ele afirma não ter mais forças nem recursos para fugir novamente, caso Israel avance com seus planos militares. A Cidade de Gaza, já superlotada por deslocados, enfrenta uma nova ameaça de invasão, com o ministro da Defesa israelense prometendo destruição caso o movimento palestino Hamas não aceite os termos de cessar-fogo.
Com quase 90% do território de Gaza sob zonas militarizadas ou ordens de evacuação, a população de 2,1 milhões está encurralada. Mawasi, no sul, se tornou o último refúgio possível, mas já está superlotado e sem infraestrutura adequada. Hamdan, como muitos outros, não sabe para onde ir e teme que qualquer espaço livre — uma rua, uma faixa de areia — seja sua única opção de abrigo.
Organizações humanitárias alertam que uma ofensiva israelense na Cidade de Gaza agravaria drasticamente a crise humanitária. A ONU declarou a situação de fome na região, e muitos palestinos estão física e emocionalmente exaustos, sem condições de se deslocar novamente. Chris McIntosh, da Oxfam, afirmou que o deslocamento em massa criaria uma sequência de desastres, com milhares lutando por recursos escassos em áreas já saturadas.
Apesar das críticas internacionais, Israel iniciou operações preliminares nos distritos periféricos da Cidade de Gaza e planeja empurrar os moradores para o sul. A França e outros aliados condenaram a escalada, chamando-a de “desastre iminente”. Enquanto isso, o Hamas declarou ter aceitado uma proposta de cessar-fogo semelhante à já aprovada por Israel, mas o governo israelense insiste em um acordo que envolva a libertação de todos os reféns.
O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu autorizou os planos de captura da cidade e ordenou negociações para libertar os cerca de 50 reféns restantes. Entre 12 e 20 de agosto, mais de 16.000 pessoas foram forçadas a fugir devido aos bombardeios intensos. No entanto, muitos palestinos permanecem na cidade, acreditando que a evacuação forçada faz parte de um plano israelense para expulsá-los definitivamente.
Moradores relataram à mídia que áreas como Mawasi e Deir al-Balah estão superlotadas, e o custo de deslocamento é proibitivo — até US$ 400 (R$ 2.168) para transportar uma barraca. Mesmo com esse esforço, encontrar um espaço livre é quase impossível. Alguns ainda esperam que um acordo de paz seja alcançado antes que os ataques os atinjam diretamente.
Hanine Dahlan, professora e mãe de dois filhos que falou ao FT, inicialmente decidiu permanecer na cidade, apesar da fome e da falta de medicamentos. No entanto, diante da iminente invasão e do medo pela segurança dos filhos, ela mudou de ideia. “Claro que vou. Mesmo que não haja lugar nenhum”, disse, expressando o desespero compartilhado por milhares de palestinos diante de uma crise sem saída.