Muitos dos sobreviventes dizem não ter recebido alertas de emergência por parte das autoridades. Os responsáveis locais dizem que ninguém conseguia prever a dimensão das cheias no Texas

Pelo menos 82 pessoas morreram na sequência das cheias que devastaram o centro do Texas na madrugada de sexta-feira passada, no feriado de 4 de Julho. Entre elas, 27 crianças e monitores que participavam num campo de férias cristão só para meninas, conhecido como Camp Mystic, junto ao rio Guadalupe.

O número de vítimas mortais não pára de subir e as autoridades admitem que possa aumentar nas próximas horas. Segundo a BBC, são esperadas mais tempestades nas próximas 24 a 48 horas na região.

Entre as vítimas mortais de Camp Mystic está o diretor de longa data do campo de férias, Richard “Dick” Eastland, que morreu a tentar salvar três meninas. Quatro dias depois, dez crianças e uma monitora do Camp Mystic continuam desaparecidas, num total de 41 desaparecidos em todo o estado.

Muitas das centenas de meninas que participavam no campo de férias dormiam em cabanas situadas a menos de 150 metros da margem do rio, numa zona de risco de inundação.

Naquela madrugada, o rio subiu 8 metros em cerca de 45 minutos após chuvas torrenciais. Muitos acordaram já rodeados de água, como foi o caso de David Lucas, 73 anos, que acordou já com as equipas de resgate dentro de sua casa.

“Estou aqui há quase 40 anos e nunca vi nada assim”, lamentou David Lucas, que vive numa casa situada a menos de 90 metros do rio Guadalupe. Em declarações ao jornal Washington Post, David contou que nunca a água do rio chegara sequer perto da sua casa. Até ao dia em que a engoliu por completo. David e a mulher conseguiram recuperar apenas algumas fotos de família, algumas panelas e frigideiras e alguns pertences dos seus pais.

A região de Texas Hill Country, na parte central do estado, é naturalmente propensa a inundações repentinas devido às zonas secas e cheias de terra, onde o solo deixa a chuva deslizar pela superfície em vez de a absorver.

Autoridades alegam que ninguém podia prever a dimensão das cheias

Muitos dos sobreviventes dizem não ter recebido alertas de emergência por parte das autoridades. De acordo com a Associated Press (AP), o Serviço Nacional de Meteorologia enviou uma série de alertas para inundações, com o primeiro alerta a ser emitido às 13:18 de quinta-feira, onde a previsão apontava para 12,7 a 17,8 centímetros de chuva.

Seguiram-se mais alertas, incentivando a população a deslocar-se para terrenos mais altos e a abandonarem áreas propensas a inundações. Às 04:03, o Serviço Nacional de Emergência emitiu um alerta urgente para um potencial de danos catastróficos e uma grave ameaça à vida humana.

Segundo a agência Associated Press (AP), questionadas sobre porque razão residentes e campistas não receberam alertas nem ordens de evacuação, as autoridades admitiram que não esperavam uma chuva tão intensa, equivalente a meses de chuva na região.

“Sabemos que chove. Sabemos que o nível do rio sobe. Mas ninguém previu isto”, confessou o juiz do condado de Kerr, Rob Kelly, a principal autoridade eleita do condado, que vive ao largo do rio Guadalupe.

Rob Kelly lembrou depois que, há cerca de seis anos, antes de ser eleito, que o condado considerou a implementação de um sistema de alerta para inundações ao longo do caudal do rio, com uma sirene de alerta, mas que a ideia nunca saiu do papel por causa do custo. 

“Já avaliámos isso antes. A população ficou surpreendida com o valor”, afirmou o responsável, quando questionado sobre os sistemas de alerta na região.

Presidente nega impacto dos cortes no Serviço Nacional de Meteorologia

No domingo, o presidente Donald Trump, que já assinou uma declaração de desastre para o condado de Kerr, foi questionado pelos jornalistas sobre se os cortes no governo federal afetaram o sistema de alerta do Serviço Nacional de Meteorologia e se ponderava recontratar meteorologistas que foram demitidos. Donald Trump respondeu que não via qualquer relação entre uma coisa e outra. “Há pessoas muito talentosas lá e elas não conseguiram prever”, afirmou.

Trump recusou-se ainda a falar sobre os seus planos anteriores de encerrar a Agência Federal de Gestão de Emergências (FEMA), devolvendo aos estados a responsabilidade de resposta a desastres. “Bem, a FEMA é algo sobre o qual podemos falar mais tarde. Mas, no momento, eles estão ocupados a trabalhar”, respondeu, remetendo o assunto para outra ocasião.

O presidente norte-americano adiantou que espera visitar as zonas afetadas na próxima sexta-feira.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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