A Baía de Guanabara, um dos cartões-postais do Rio de Janeiro, recebe anualmente cerca de 1 bilhão de litros de chorume, segundo o movimento Baía Viva. Esse líquido altamente tóxico é resultado da decomposição de lixo doméstico e representa um dos maiores passivos ambientais do estado. Estima-se que, diariamente, 3 milhões de litros sejam lançados de forma irregular nas águas da baía, afetando diretamente 12 municípios da região metropolitana.

Crise silenciosa e invisível

De acordo com Sérgio Ricardo Potiguara, fundador do Baía Viva, o estado enfrenta uma “crise do chorume não tratado”, agravada por outros 500 milhões de litros estocados de forma precária. O antigo lixão de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, concentra metade da produção de chorume da região e é apontado como foco permanente de contaminação.

Impactos diretos na vida das comunidades

A contaminação afeta pescadores artesanais, catadores e caranguejeiros, muitos dos quais vivem em situação de extrema pobreza. A exposição ao chorume traz doenças de pele, infecções e problemas respiratórios. Além disso, a mortandade de peixes por falta de oxigênio tem comprometido a pesca, principal fonte de renda de diversas famílias. O turismo também sofre: praias continuam impróprias para banho e o mau cheiro afasta visitantes.

Falhas estruturais e políticas ineficazes

Para o professor Adacto Ottoni, da Uerj, a Política Nacional de Resíduos Sólidos, em vigor desde 2010, não tem sido aplicada com rigor. Ele critica o fato de que as coletas de amostras de água são feitas em horários em que a maré diluir os poluentes, mascarando os dados. Já o professor Carlos Canejo, da UVA, alerta que estações de tratamento de esgoto (ETEs) não foram projetadas para lidar com chorume, e parte do material acaba sendo despejado sem tratamento adequado.

Lixões ainda ativos no Brasil

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, o Brasil conta com 1.606 lixões ainda em operação e 317 aterros controlados, formas inadequadas de descarte final de resíduos. No estado do Rio, há 10 unidades em situação irregular, apesar de iniciativas pontuais para encerramento dessas práticas. Programas como o Lixão Zero não eliminam o problema de fundo: a contaminação persistente do solo e dos lençois freáticos.

A resposta oficial e as lacunas

O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) nega a existência de despejos irregulares, mas reconhece a ausência de dados completos fornecidos pelos municípios. Em nota, o órgão afirma que a legislação permite a diluição de pequenas quantidades de chorume em ETEs — algo que especialistas consideram ineficaz e que contribui para subnotificação dos impactos reais.

Promessas de investimento e desconfiança

A concessionária Águas do Rio anunciou R$ 19 bilhões em investimentos até 2033, sendo R$ 2,7 bilhões destinados à Baía de Guanabara. Outros programas, como o PSAM e o Inea, prometem ações com ecobarreiras e coletores tronco. No entanto, ambientalistas denunciam falta de transparência e baixa execução orçamentária nos projetos em curso.

Um colapso anunciado

A crise do chorume é um reflexo de décadas de omissão, má gestão e falta de articulação entre governos e empresas. Para os especialistas, apenas um modelo de gestão sustentável, que envolva educação ambiental, consumo consciente e fiscalização rigorosa dos aterros, poderá frear o avanço da contaminação.

*Da Agência Fonte Exclusiva. Compartilhe esta notícia do Diário da Guanabara, o melhor site de notícias do Rio de Janeiro.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *