Em vez de dar voltas rápidas na piscina, Julien Henx tem de trabalhar arduamente na reabilitação.<div class="Quote_quote__quotee__E1l7_">Julien Henx</div>

Quando Julien Henx estava deitado debaixo da mota, sua única preocupação foi não entrar em pânico. Tentou evitar o local do acidente, mas quando tentou apoiar-se na perna esquerda, esta simplesmente partiu-se. “Como o airbag estava aberto contra o meu corpo, eu não conseguia respirar”, conta Henx. Depois de tirar o capacete, o atleta de 30 anos apercebeu-se que estava a tremer. “Estava em modo de sobrevivência”, diz.

A estrela da natação luxemburguesa ter sobrevivido foi um pequeno milagre. No dia 8 de setembro, Henx estava sentado em sua adorada mota de corrida, rumo a um grande passeio na Bélgica com um amigo. “Era suposto ser a última viagem antes da época de natação”, revela Henx. Numa longa estrada rural, contudo, os travões deixaram subitamente de funcionar. “Três segundos depois, já estava no chão”, recorda.

Imaginei que a vida nunca pudesse ser tão lenta

Julien Henx

Henx passou entre duas árvores por um caminho de terra batida e acabou por embater com a mota contra um muro. Quando o amigo se mudou, Henx estava sentado e reativo. “Ele chamou a ambulância”, gravou o nadador. “Não sei quanto tempo passou. Estava apenas a lutar para manter a calma. Não sou fã de sangue, mas naquele momento tudo mudou”.

A ambulância levou Henx para o hospital, onde foi imediatamente operado. Felizmente, o jovem de 30 anos foi indicado para um médico especializado em cirurgias para atletas de alta competição. Ficou na mesa de operações durante três horas e meia. “A tíbia e o perônio estavam completamente partidos, assim como o joelho. O pé estava simplesmente pendurado”, relata Henx, descrevendo os detalhes doloridos. A perna foi estabilizada com um prego de 37,5 centímetros de comprimento e quatro parafusos.

“Há dias muito difíceis”

Na altura, Henx não fazia ideia de que o calvário só começaria realmente após a operação. O prognóstico dos médicos era claro: nove meses de reabilitação no Instituto Luxemburguês para o Alto Rendimento no Desporto (LIHPS) para que a vida do atleta de alta competição pudesse voltar ao normal. Passaram três meses e Henx já consegue andar sem muletas, ou melhor, “coxear”, como ele próprio diz. “Nunca imaginei que as consequências fossem tão graves”, admite. “Há dias que são muito difíceis, em que não me sinto bem. E outros em que vejo que as coisas estão a melhorar.”

A reabilitação também inclui acompanhamento psiquiátrico. Porque, para além das consequências físicas, Henx não conseguirá livrar-se tão cedo dos outros efeitos do acidente. “Os ruídos na minha cabeça, o cheiro a gasolina”, recorda. “Tenho andado de mota quase toda a minha vida e sempre correndo bem”, acrescenta.

Depois da operação, Henx não conseguiu levantar-se da cama. “Não me apercebi das dores que iria sentir. Tudo me doía todos os dias”, conta. Sempre havia alguém no apartamento, da família ou dos amigos, para cozinhar, lavar a loiça ou arrumar a casa. “Até precisei de alguém para me levar à casa de banho e ao chuveiro. Nunca imaginei que a vida pudesse ser tão lenta”, desabafa.

A sua rotina diária é bem organizada, hábito do esporte de competição. Reabilitação três vezes por semana, fisioterapia duas vezes, natação três vezes. Lentamente, foi regressando aos movimentos familiares: andar em bicos de pés, rolar o pé, exercícios rápidos de fortalecimento e de estabilidade para o joelho. “Não me mexi durante tanto tempo que perdi todos os músculos da minha perna”, conta.

Não me apercebi das dores que iria sentir.

Julien Henx

No entanto, manter-se mentalmente forte é ainda mais importante. “Estava super motivado no início. Havia uma sensação de realização todos os dias”, revela. Henx consegue levantar-se sozinho e ir à casa de banho. Mas depois vieram três dias sem progressos. Uma semana com dores fortes? Não há problema. Mas após três semanas e quase sem dormir, tornou-se mais crítico. “Já não tinha fome e perdi muito peso. Perguntamo-nos: quanto mais tempo é que isto pode durar?”, explica o luxemburguês.

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“Tive azar, mas também tive sorte”

Outra questão que a Henx, por vezes, se coloca é: terá tido azar ou sorte? “É definitivamente uma mistura de sentimentos”, explica. No início, estava zangado. Porque é que aconteceu uma coisa destas? Porque é que os travões não funcionavam, apesar de a oficina ter verificado tudo? “Claro que eu sabia que o perigo existia. Evitei qualquer risco, prestei atenção às condições climáticas, não corri. O acidente foi algo que não controla pude”, explica.

Henx falou com o piloto de motos luxemburguês Chris Leesch, um dos seus melhores amigos, que também confirmou este perigo. “Ele disse-me: Julien, normalmente quando alguém já não consegue travar, já não se fala com essa pessoa depois. Tu ainda podes falar. A tua carreira pode ter acabado, mas estás vivo”, conta, e recorda a si próprio: “O meu acidente poderia ter sido muito pior. É assim que quer pensar, é assim que tem de pensar. “Tive azar, mas também tive sorte. E vou voltar a funcionar normalmente”.

Quando Henx entra no LIHPS, nestes dias, tem de ser cuidadoso. Não pode tropeçar nem esbarrar em ninguém, porque ainda não pode dar um passo rápido para o lado. A nova realidade não é fácil de aceitar. “Eu costumava ser o atleta de elite em todo o lado, aquele que era muito bom em alguma coisa. As pessoas me admiravam. Agora, não me sinto forte. Chego ao ‘Coque’ (complexo desportivo no Luxemburgo) e ando a coxear”, partilha.

Mas, também há momentos que mostram a Henx que as pessoas à sua volta vêem o seu esforço por trás da fachada. “Um desportista disse-me que acha espantoso que eu continue a ser tão positivo, mesmo quando tudo o que era importante para mim foi retirado”, conta. Tem sempre um sorriso no rosto, é assim que todos o conhecem. Os vários anos como atleta profissional também ajudam. O nadador sabe como lutar. “Mas a certa altura, até eu me canso”, confessa.

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“Preso onde poderia ser livre”

Henx está habituado a dar o seu melhor. Toda a sua vida tem sido assim. Agora tem de se esforçar para subir uma lança de escadas. “Quando se chega às meias-finais de um Campeonato do Mundo, toda a gente fica feliz. Mas se o teu próximo objetivo é saltar de um degrau, já é diferente.” Recentemente, Henx foi às compras sozinha pela primeira vez e almoçou com a mãe. “Quase morri de dores por ter de me sentar durante tanto tempo”, admite.

Semana semana após, Henx luta a cada passo no seu caminho de regresso a uma vida normal. Ainda não está a pensar em terminar sua carreira de nadador: “Não quero que o acidente acabe com a minha carreira. Quero tentar atingir um certo nível novamente. Se não o conseguir, então paro”. Os pequenos sucessos do dia a dia dão-lhe coragem. “Estou preso num mundo onde costumava ser totalmente livre”, conclui, sem nunca perder o sorriso.

(Artigo publicado originalmente no Mosto Luxemburguês, traduzido com recurso a inteligência artificial e adaptado para o Contato por Sofia Cristino.)

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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