A pesquisa, conduzida por cientistas da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), Universidade Estadual do Amapá (UEAP), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e parceiros internacionais, alerta para riscos à biodiversidade marinha, às áreas protegidas e às populações tradicionais que dependem dos recursos naturais da região.

 Os pesquisadores utilizaram modelos de simulação que consideram fatores como a vazão do rio Amazonas, marés, correntes, ventos e características da costa. As projeções indicam que uma mancha de óleo poderia se espalhar por até 132 quilômetros em apenas três dias, comprometendo ecossistemas frágeis, incluindo manguezais e zonas úmidas costeiras. O abastecimento de água em cidades litorâneas também poderia ser afetado.

 A equipe ressalta que o licenciamento ambiental atual foca na capacidade de resgate da fauna em caso de acidentes, mas não enfrenta a questão central: como conter um vazamento em um poço de 2,88 quilômetros de profundidade, sujeito a correntes oceânicas complexas. Para efeito de comparação, o desastre no Golfo do México, em 2010, ocorreu em 1,5 quilômetro de profundidade e levou mais de cinco meses para ser controlado.

 “Enquanto o licenciamento ambiental se concentra na capacidade da empresa petrolífera estatal de resgatar a vida selvagem marinha em caso de derramamento, a questão muito mais fundamental é a capacidade de tapar um vazamento, caso ocorra”, explica o pesquisador Philip Fearnside, do INPA, um dos autores do estudo. “A experiência com royalties do pré-sal e outros casos recentes mostra isso”, disse Fearnside.

 Além dos impactos ambientais, o estudo evidencia riscos socioeconômicos. O Amapá, com mais de 700 mil habitantes, abriga comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas que dependem da pesca artesanal e da coleta de produtos florestais.

 A cadeia do açaí, concentrada na região da Foz do Amazonas, movimentou mais de R$ 6 bilhões em 2023, valor que poderia ser diretamente comprometido em caso de contaminação. O episódio do derramamento de óleo que atingiu a costa do Nordeste brasileiro em 2019 é lembrado como referência para dimensionar as possíveis consequências.

 Benefícios discutíveis
 Outro alerta dos cientistas diz respeito à promessa de que a arrecadação com petróleo resultaria em benefícios sociais e no financiamento da transição energética. O artigo lembra que, em experiências anteriores, os royalties contribuíram para o aumento da desigualdade e não trouxeram melhorias sustentáveis. Além disso, o cenário global de combate às mudanças climáticas deve reduzir a demanda por combustíveis fósseis nos próximos anos, limitando a viabilidade econômica do projeto.
 “A exploração de petróleo é algo temporário. O mundo inteiro, incluindo o Brasil, precisa parar logo de usar petróleo como combustível para evitar um catástrofe climático que dizimaria o Brasil, inclusive o Amapá”, alerta Philip Fearnside.

 Como alternativa, os pesquisadores destacam o potencial solar do Amapá, que poderia gerar cinquenta vezes mais energia do que a população consome hoje utilizando apenas 1% do território estadual. Outras possibilidades incluem o fortalecimento da bioeconomia, com a agregação de valor a produtos como o açaí e a andiroba, e o incentivo ao turismo comunitário.

 Testes acontecendo
 Atualmente, o plano de exploração de petróleo na foz do rio Amazonas está sendo submetido a testes exigidos pelo Ibama que têm como foco avaliar a capacidade da Petrobras de responder a situações de emergência. Entre os pontos mais críticos está o resgate de animais oleados, um protocolo que busca garantir a sobrevivência de espécies marinhas e costeiras em caso de derramamento de óleo.
 Em simulações recentes, fiscais identificaram falhas como embarcações presas em redes, uso inadequado de equipamentos e improvisos que não atenderiam a cenários reais de desastre. Esses problemas reforçaram a avaliação de que, apesar dos planos apresentados em papel, a resposta prática ainda não é suficiente para lidar com a complexidade da região.
 O resgate da fauna é especialmente sensível no Amapá porque envolve ecossistemas diversos — como manguezais, áreas de desova de tartarugas e rotas de aves migratórias — além de espécies emblemáticas como peixes-boi e botos. Nessas áreas, um acidente poderia comprometer não apenas a biodiversidade, mas também atividades de subsistência de comunidades ribeirinhas, indígenas e quilombolas que dependem diretamente da pesca artesanal.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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