Desde 2019, círculos de rádio estranhamente nítidos têm desafiado a compreensão dos astrônomos. Invisíveis à luz visível e detectados apenas por radiotelescópios, essas estruturas gigantes podem ser relíquias de explosões galácticas. Um novo estudo detalha o intrigante ORC J0356-4216.
Desde 2019, astrônomos têm se deparado com misteriosos círculos de ondas de rádio no espaço, conhecidos como círculos de rádio estranhos (ORCs, na sigla em inglês), cuja origem permanece desconhecida. Esses fenômenos foram detectados pela primeira vez durante um levantamento piloto do radiotelescópio ASKAP, operado pelo CSIRO, e desde então têm despertado grande interesse científico por sua aparência nítida e circular.

Essas estruturas são visíveis apenas em comprimentos de onda de rádio, sendo completamente invisíveis em espectros óptico, infravermelho e de raios X. Até o momento, apenas cerca de dez ORCs foram identificados, o que reforça seu caráter raro e enigmático, mas graças à ativação de novos observatórios, como o ASKAP, os astrônomos têm conseguido detectar esses fenômenos antes inacessíveis à tecnologia disponível.
Um estudo recente liderado por cientistas da Universidade do Ruhr, na Alemanha, focou no ORC J0356-4216, utilizando os radiotelescópios ASKAP e MeerKAT para analisar suas propriedades. O MeerKAT foi responsável pela descoberta inicial desse ORC em outubro de 2023, e sua capacidade de observação detalhada foi essencial para o avanço da pesquisa.
A análise revelou que o ORC J0356-4216 é formado por dois anéis simétricos com um diâmetro total de aproximadamente 2,18 milhões de anos-luz. As ondas de rádio apresentam polarização entre 20% e 30%, e o campo magnético parece estar orientado tangencialmente aos anéis, o que pode fornecer pistas sobre os processos físicos envolvidos em sua formação.
Assim como outros ORCs, o J0356-4216 está centrado em uma galáxia, o que sugere uma possível ligação entre esses círculos e eventos galácticos intensos. Essa associação pode ser crucial para desvendar os mecanismos que geram tais estruturas, especialmente se forem resultado de atividades energéticas passadas.
A hipótese mais aceita pelos pesquisadores é que esses círculos sejam ondas de choque provocadas por eventos extremos na galáxia central, como ejeções de raios estelares, fusões galácticas ou explosões de atividade de buracos negros supermassivos. No caso específico do J0356-4216, a morfologia de lóbulo duplo e as características de polarização indicam que ele pode ser uma relíquia de emissões anteriores de um núcleo galáctico ativo (AGN, na sigla em inglês), possivelmente impulsionadas por jatos energéticos.
Por Sputinik Brasil