As ararinhas-azuis (Cyanopsitta spixii) enfrentam severas dificuldades para se manterem na natureza. A ave que já reinou nos céus nordestinos voltou a ser preocupação. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) confirmou a contaminação das últimas 11, que estavam na zona rural de Curaçá (BA). Elas estão contaminadas com o circovírus.
A Doença do Bico e das Penas (PBFD) é contagiosa e fatal, exigindo máxima contenção. Por isso, a medida mais segura é o isolamento rigoroso – separando as aves positivas e negativas, em instalações exclusivas. “A baixa diversidade genética da ararinha-azul torna a espécie frágil e a contaminação viral ainda mais perigosa”, explica o conservacionista apaixonado por aves, Nunes D’ Acosta.
A espécie foi considerada extinta nos anos 2000, quando o último exemplar selvagem desapareceu. De lá para cá, houve um esforço conjunto nacional e internacional para retomar a presença das aves na natureza. Mesmo sendo considerada desaparecida, ainda existiam algumas delas em cativeiros pelo mundo.

Cerca de 90% das ararinhas estavam em posse da ONG alemã ACTP que, após negociações com o governo federal, as devolveu de volta para casa. A reintrodução começou em 2020.
De acordo com Nunes D’ Acosta, a população atual descende de um número muito pequeno de indivíduos fundadores – o que resulta em baixa variabilidade genética. “Essa fragilidade genética reduz a capacidade da espécie de se adaptar e lutar contra doenças como o circovírus, aumentando o risco de perdas catastróficas”, alerta.
“Do ponto de vista biológico e operacional, a detecção do circovírus nas ararinhas-azuis reintroduzidas representa o maior revés sanitário e logístico para o programa, impactando diretamente os próximos planos de reintrodução e exigindo um reforço drástico nos protocolos sanitários” é o que sinaliza o conservacionista ambiental.
Soluções
A caatinga é vital, mas precisa de dupla segurança porque ela é o único habitat natural da ararinha-azul. É esse ambiente que fornece o alimento exclusivo (pinhão-bravo, faveleira) e locais de ninho específicos (ocos de Caraibeiras).
“Sem a caatinga preservada, a espécie não tem como sobreviver na natureza”, alerta Nunes D’ Acosta.
Na concepção desse apaixonado por aves, há soluções para tornar o bioma seguro novamente. Restauração ecológica com o plantio e proteção das áreas de riacho, vitais para as árvores de nidificação (Caraibeiras). Além do combate ao desmatamento, com fiscalização rigorosa das unidades de conservação e engajamento da comunidade local no uso sustentável da terra.

Nunes D’ Acosta indica também o monitoramento da fauna, com testagem contínua de outras aves silvestres (maracanãs, periquitos) para mapear se o circovírus está circulando no ambiente natural.
Para salvar a espécie é preciso garantir que o bioma esteja seguro para novas solturas. “Criar um banco de amostras biológicas (sêmen/células) para uso futuro em reprodução assistida, funcionando como seguro genético”, poderá ser uma outra via também na visão de Nunes D’ Acosta.
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