Um ex-piloto da Alaska Airlines, Joseph D. Emerson, envolveu-se em um incidente alarmante ao tentar desligar os motores de uma aeronave durante um voo, dois dias após o consumo de cogumelos psicodélicos. O evento ocorreu em 22 de outubro de 2023, quando a aeronave realizava a rota de Everett, Washington, para San Francisco. Emerson expressou seu arrependimento durante o julgamento, agradecendo à tripulação que o impediu de causar um desastre.
No Tribunal de Circuito do Condado de Multnomah, em Portland, Oregon, Emerson revelou estar passando por um “colapso nervoso” e lidando com problemas de depressão. Ele admitiu ter acionado as alavancas do sistema de supressão de incêndio, que são responsáveis por interromper o fornecimento de combustível e desligar os motores. O ex-piloto relatou que estava em recuperação do alcoolismo e não tinha intenção de ferir ninguém.
“O que aconteceu foi errado e não deveria ter acontecido, e eu assumo a responsabilidade por isso”, afirmou Emerson, comprometendo-se a melhorar sua vida e a se tornar uma pessoa melhor.
Durante a audiência, os acordos judiciais o isentaram de pena em acusações estaduais; no entanto, ele ainda poderá enfrentar sanções em nível federal. De acordo com o portal O Globo, Emerson declarou-se culpado de interferência com a tripulação de voo, um crime que pode resultar em até 20 anos de prisão. Seus advogados informaram que os promotores federais devem recomendar uma sentença de um ano de prisão, enquanto a defesa buscará liberdade condicional. A sentença está agendada para ser proferida em 17 de novembro.
No tribunal estadual, Emerson também não contestou 83 acusações menores relacionadas à colocação em risco dos passageiros, além de uma acusação adicional sobre colocar em perigo a aeronave. Como parte do julgamento, ele foi condenado a cumprir 664 horas de serviço comunitário e a pagar uma restituição no valor de US$ 59.608 (aproximadamente R$ 322 mil) à Alaska Airlines.
O ex-piloto explicou que havia consumido cogumelos durante uma viagem com amigos como forma de lidar com o luto pela morte do seu melhor amigo. Segundo ele, as alucinações persistiram por dois dias antes do incidente. “Pensei que os dois motores iriam parar, o avião começaria a cair e eu acordaria”, declarou em uma entrevista ao The New York Times enquanto aguardava julgamento em Portland.
Os outros pilotos conseguiram evitar que as alavancas ficassem acionadas e impediram um possível desastre. Após o incidente, Emerson deixou a cabine e alertou uma comissária: “Você precisa me algemar agora ou vai ser ruim”. Mesmo imobilizado, ele tentou puxar a alavanca de uma porta de emergência antes de ser contido novamente. O voo da Horizon Air foi desviado para Portland, onde Emerson foi detido.
Durante as audiências judiciais, Alison Snyder, uma passageira do voo, criticou duramente as ações do ex-piloto e pediu mudanças nas políticas relacionadas à saúde mental na aviação. “As escolhas que Joseph Emerson fez naquele dia e as políticas que as permitiram quase levaram à nossa morte”, declarou Snyder por videoconferência.
O incidente levantou questões sobre as normas da Administração Federal de Aviação (FAA), que afastam pilotos diagnosticados com problemas mentais como depressão. Muitos profissionais evitam buscar tratamento devido ao temor da perda da certificação médica; uma pesquisa realizada em 2022 revelou que 56% dos pilotos nos EUA já evitaram cuidados médicos por esse motivo.
Emerson reconheceu essa realidade: “Muitos de nós não somos tão francos quanto seríamos em outras circunstâncias”. Em resposta ao episódio, o Conselho Nacional de Segurança nos Transportes organizou uma cúpula sobre saúde mental para pilotos. Em abril de 2024, um painel da FAA apresentou 24 recomendações para reduzir as barreiras no acesso aos cuidados mentais; três delas já foram implementadas.
A FAA reafirmou seu compromisso com a saúde mental dos pilotos e incentivou que busquem ajuda quando necessário: “Encorajamos que eles busquem ajuda cedo, caso tenham uma condição de saúde mental, já que a maioria delas, quando tratada, não desqualifica um piloto para voar”.
No ano passado, Emerson e sua esposa fundaram uma organização sem fins lucrativos dedicada ao apoio a pilotos enfrentando dificuldades psicológicas. Segundo informações fornecidas pelo advogado do ex-piloto, ele tem viajado pelo país — ônibus e carro — abordando a temática.