A 25 de dezembro de 2024, 38 pessoas morreram quando um avião da Azerbaijan Airlines se despenhou no Cazaquistão devido a um míssil russo. Quatro dias depois, uma colisão com pássaros causou o maior acidente aéreo na história da Coreia do Sul, que resultou na morte das 179 pessoas que seguiam a bordo do voo da Jeju Air.

O ano não terminou da melhor maneira, mas os desastres na aviação continuaram em 2025. Em dois meses, outras tragédias voltaram a chocar o mundo. A 29 de janeiro, um avião comercial colidiu com um helicóptero militar junto ao aeroporto da capital dos EUA, Washington, e caiu no rio. Todas as 67 pessoas que estavam no voo da American Airlines morreram naquele que foi o desastre aéreo mais mortal no país desde 2001.

Mais recentemente, a 17 de fevereiro, um avião da Delta Airlines capotou ao aterrar no Aeroporto Internacional de Pearson, em Toronto. Apesar da gravidade do acidente, que deixou a aeronave de “cabeça para baixo”, com as rodas no ar, e numa pista coberta de neve, todos os passageiros e tripulação sobreviveram.

A onda de acidentes envolvendo aviões comerciais dos últimos três meses tem aumentado a ansiedade que muitos sentem quando pensam em voar. Mas, afinal, porque é que têm acontecido mais desastres aéreos nos últimos tempos? Ou estarão apenas a ser mais noticiados?

Nem uma coisa, nem outra. Quem o diz é José Correia Guedes, que foi piloto durante mais de 30 anos na TAP. Em janeiro, foi novamente reconhecida como a companhia aérea mais segura da Europa, de acordo com um ranking elaborado pela Airline Ratings.

Apesar desta sucessão recente de acontecimentos trágicos, “a tendência geral nas últimas quatro décadas tem sido descendente”. “Há muitos mais aviões a voar e menos acidentes a acontecer. Em 2023, por exemplo, não morreu uma única pessoa em acidentes de aviação comercial, num ano em que também foi registado o maior número de sempre — 273 mil — a voar no mesmo dia”, explica à NiT o antigo comandante.

Desde a década de 1980, o número de desastres caiu cerca de 30 por cento, e as tragédias fatais desceram 60 por cento, segundo o relatório da Boeing, “Resumo Estatístico de Acidentes com Aviões Comerciais”, de 2023.

O grande número de acontecimentos com aeronaves mais pequenas e privadas — em 2024, foram cerca de 200 — dá a ideia que “os níveis de segurança estão a piorar”, mas o avião continua a ser o meio de transporte mais seguro do mundo, sublinha José Correia Guedes.

“Desde o final do ano passado que as coisas têm realmente corrido mal. Foi uma sucessão completamente anormal, que está a deixar as pessoas com medo e preocupadas”, reconhece. Contudo, a maioria das tragédias aconteceu “por fatores externos” e não por falhas mecânicas.

“Não há nenhuma razão objetiva, nem nenhum fator comum aos eventos que têm ocorrido. Em nenhum destes casos a culpa foi do avião. Ou são erros humanos, ou fatores externos, como aconteceu com o míssil russo”, reforça.

Cerca de 80 por cento dos acidentes de aviação podem ser atribuídos a erro humano, como demonstra um estudo da Embry-Riddle Aeronautical Academy de 2021. O caso da colisão do helicóptero militar com uma aeronave comercial em Washington foi um desses exemplos. O principal motivo por trás dos acidentes é óbvio, contudo, raramente pensamos nele.

“O erro é inerente à condição humana. Enquanto houver humanos envolvidos, há sempre a possibilidade de existirem eventos deste género”, salienta. O “resultado mais positivo” desta sucessão de desastres é que estes eventos, fatais ou não, serão analisados minuciosamente e permitirão tornar as viagens mais seguras no futuro.

“Todos eles estão em vias de serem explicados e essa é a parte reconfortante. O preocupante é não saber a causa, isso, sim, gera desconforto e medo”, sublinha o ex-piloto.

Apesar de todos os desastres serem diferentes, há estudos que comprovam que os acidentes têm mais probabilidade de ocorrer durante a descolagem ou aterragem. Precisamente o que aconteceu com o desastre no Aeroporto Internacional de Toronto, cujas causas continuam a ser investigadas pelas autoridades, que garantem que a pista estava seca e não sopravam ventos cruzados.

Qual é o lugar mais seguro num avião?

A maioria dos passageiros prefere escolher os primeiros lugares de uma aeronave, seja por terem mais espaço para as pernas ou para desembarcarem primeiro. No entanto, há várias investigações, como uma realizada pela “TIME, em 2015. A análise da revista, baseada em 35 anos de dados de tragédias aéreas, conclui que os lugares mais seguros encontram-se na parte de trás.

O estudo da publicação revela que os lugares no terço traseiro do avião tinham uma taxa de mortalidade global de 32 por cento, em comparação com 38 por cento no terço dianteiro e 39 por cento no terço intermédio. Diz-se, também, que os assentos centrais são mais seguros que aqueles junto à janela ou ao corredor, devido ao “amortecimento provocado pelas pessoas que tem ao lado”. 

De certa forma, os destroços do voo da Azerbaijan Airlines e da Jeju Air parecem confirmar esse rumor. Os 29 sobreviventes do primeiro acidente estavam todos sentados na cauda do avião, que se dividiu em dois. A metade traseira ficou praticamente intacta. O mesmo aconteceu com a tragédia sul-coreana: as duas assistentes de bordo que sobreviveram estavam sentadas igualmente nas últimas filas da aeronave.

Mesmo com estes casos, não há dados suficientes que comprovem a afirmação de que é mais seguro viajar nos últimos assentos. “Não há um lugar mais seguro, mas, de uma forma geral, os de trás são menos afetados se o avião cair de frente. Noutras circunstâncias, é exatamente igual”, explica o ex-comandante que publicou, em 2017, o livro “O Aviador“, com histórias de uma vida passadas em aviões.

O desastre em Toronto, que “podia ter acabado muito mal”, é um dos exemplos que reforçam a importância de seguir todas as medidas de segurança. Na altura do impacto, já todos “iam sentados e com os cintos apertados”.

“Em casos de turbulência em acidentes deste género, é um fator muito importante. Podia ter sido uma tragédia de grande dimensão, mas correu tudo bem e os passageiros salvaram-se”, adianta.

Mais do que o lugar escolhido, o que pode fazer a diferença é a rapidez com que os passageiros podem ser retirados. Todos os aviões têm de mostrar que podem ser evacuados em apenas 90 segundos para conseguirem a certificação.

Apesar dos acontecimentos dos últimos meses, José Correia Guedes reforça que os acidentes aéreos são extremamente raros e que há uma tendência decrescente no número de eventos fatais. “Nos próximos 20 anos, segundo um estudo da Airbus, a frota mundial vai duplicar. Haverá o dobro dos aviões, mas haverá cada vez menos acidentes”, sublinha.

 


By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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