No apagar das luzes de 2024, uma minissérie de produção norueguesa tem feito a cabeça de muita gente ao redor do mundo. No Brasil, a narrativa já suplantou a bem-sucedida “Senna”, sobre a trajetória do piloto Ayrton Senna, e tomou para si o posto de primeiro lugar no ranking das histórias mais assistidas na plataforma Netflix no atual momento. Na Argentina, idem — aliás, ninguém, no país “hermano”, acreditaria que a adaptação de “Cem anos de solidão” seria desbancada por qualquer outra série tão rapidamente. Pois bem, o título responsável por este fenômeno improvável atende pelo nome de “Inferno em La Palma”.

Mas, afinal, o que tem feito tanta gente tomar gosto pelo tal “Inferno…”? Com apenas quatro episódios, a minissérie se baseia numa antiga teoria científica — já refutada por várias pesquisas posteriores, mais recentes — de que uma erupção violenta do vulcão Cumbre Vieja, na paradisíaca ilha de La Palma, no arquipélago espanhol das Ilhas Canárias, poderia rachar a montanha, lançar um enorme pedaço de terra para o Oceano Atlântico e causar um tsunami sem precedentes, capaz de provocar desastres em países do outro lado da costa, como o Brasil.

Está aí o grande mote da trama. Na ficção, uma família norueguesa aterrissa, alegre e contente, em La Palma, para passar as férias à beira do mar. Até que… Uma jovem pesquisadora descobre sinais alarmantes de uma erupção vulcânica iminente — e, quando menos se espera, um desastre de proporções inimagináveis lança tudo pelos ares.

Até aí, tudo o.k. Poderia ser só mais uma história de catástrofe ambiental, não fosse o fato de um ingrediente polêmico provocar um crescente burburinho — e aumentar o buzz, sobretudo na Europa — acerca da produção. É que quando a Netflix lançou a minissérie, na segunda semana de dezembro, os habitantes da pequenina La Palma não ficaram nada satisfeitos. Ninguém por lá aprovou o fato de uma história sobre um acontecimento tão trágico — semelhante à erupção que engoliu, em 2021, parte da ilha por rios de lava, devastando casas e plantações — ser idealizada, produzida e narrada por estrangeiros (em língua norueguesa!), e não pelos próprios moradores locais.

Erupção de vulcão em La Palma, em 2021, engole grande parte da ilha por incêndios e rios de lava — Foto: Desiree Martin/AFP
Erupção de vulcão em La Palma, em 2021, engole grande parte da ilha por incêndios e rios de lava — Foto: Desiree Martin/AFP

Em análise publicada pelo jornal espanhol “20Minutos” — e que traz à tona a opinião da maioria dos moradores locais sobre a produção ficcional —, a abordagem do tema foi realizada a partir da perspectiva de personagens que interpretam turistas, sem levar em consideração os sentimentos e preocupações dos espanhóis residentes na ilha.

Diante da controvérsia, a plataforma de streaming esclareceu que a série norueguesa começou a ser rodada muito antes da erupção do vulcão em 2021. Desde o início, segundo a Netflix, a ideia era usar o perigo iminente de uma catástrofe natural como trama. No entanto, para o azar da equipe, o desastre aconteceu há três anos, obrigando a suspensão das filmagens devido ao avanço da lava, segundo a empresa.

Alguns moradores argumentam que este registro audiovisual ajuda a mostrar como era a região antes da mais recente erupção, que causou danos físicos, sem o registro de mortes, com prejuízos acima dos 900 milhões de euros — a ilha precisou passar por um processo de “reconstrução”, como reconheceu o governo nos últimos anos. Fato é que, para o bem ou para mal, La Palma se projetou ao mundo.

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By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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