Uma colisão entre um helicóptero das forças armadas norte-americanas e um avião de passageiros sobre Washington D.C. provocou 67 vítimas mortais, em Janeiro último. Um dia depois, uma mulher trans, militar da Guarda Nacional do estado da Virgínia, foi forçada a prestar uma “prova de vida” para desmentir rumores de que pilotava o helicóptero envolvido no acidente. Agora, vai levar à justiça um dos influencers conservadores responsáveis pela “campanha de difamação” que correu as redes sociais.
Jo Ellis, representada pelo Equality Legal Action Fund, acusa Matthew Wallace de difamação, conforme a queixa apresentada ao tribunal federal do Colorado. A acusação alega que o utilizador da rede social X “criou uma campanha de difamação destrutiva e irresponsável”, rentabilizando uma “falsa narrativa” sobre Ellis.
“Tomei conhecimento de que algumas pessoas me associaram ao acidente em Washington e isso é falso. A tentativa de ligar isto a algum tipo de agenda política é insultuosa para as famílias. Não merecem isso. Eu não mereço isso”, escreveu Jo Ellis no seu perfil de Facebook, na altura em que o boato se tornou viral, sobretudo no X.
Ellis, piloto de helicópteros Black Hawk no estado norte-americano da Virgínia, não teve qualquer ligação ao acidente. Para o provar, publicou um vídeo em que mostrava estar viva, desmentindo, assim, as acusações que lhe eram dirigidas, uma vez que nenhum dos tripulantes ou passageiros das duas aeronaves sobreviveu.
Em reacção ao desastre, o próprio Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, responsabilizou as políticas antidiscriminatórias na contratação pública, incluindo um programa de diversidade e inclusão promovido pela Administração Federal de Aviação, pelo acidente. Sem surpresa, não apresentou fundamento para a associação feita entre este caso e as políticas DEI (diversidade, equidade e inclusão).
Embora não seja claro que tenha sido Matthew Wallace a lançar a campanha de desinformação envolvendo Jo Ellis, a defesa da militar identifica-o como um dos grandes responsáveis pela sua divulgação. Por várias vezes, Wallace partilhou na sua conta na rede social X, onde reúne mais de dois milhões de seguidores, o nome e a fotografia de Ellis, acusando-a de pilotar o helicóptero envolvido no acidente e responsabilizando-a por dezenas de mortes. Como resultado, Ellis começou a receber ameaças, incluindo “ameaças de morte credíveis” e mensagens de ódio, muitas de carácter transfóbico.
“Tornar-se infame da noite para o dia causou à queixosa e à sua família um enorme sofrimento”, afirma a acção judicial apresentada ao tribunal do Colorado, citada pelo The Guardian. “A queixosa ficou devastada por a sua história ter ofuscado o trágico acidente e, provavelmente, ter causado mais sofrimento às famílias das vítimas. Além disso, temia pela sua segurança e pela segurança da sua família.”
Em declarações ao diário britânico, Jo Ellis, que continua a servir a Guarda Nacional da Virgínia, disse ter ficado com a vida “virada do avesso”, uma vez que deixou de ser uma cidadã anónima. “Defendo a liberdade de expressão, mas também defendo as consequências da liberdade de expressão quando a usamos para atiçar uma multidão e prejudicar a vida de alguém.”