O mercúrio, metal altamente tóxico e amplamente utilizado na mineração no Brasil, afeta a saúde e o meio ambiente do país. O estudo De onde vem tanto mercúrio, realizado pelo Instituto Escolhas, revela os diversos perigos no uso do elemento químico na extração de ouro.
“O impacto do mercúrio à saúde humana é a esfera mais grave das problemáticas desse metal e a razão pela qual temos que encontrar meios para eliminá-lo da mineração”, destaca a diretora de pesquisa do Instituto Escolhas, Larissa Rodrigues.
A pesquisa mostra o descontrole das instituições brasileiras na importação do elemento tóxico. O produto tem que ser registrado pelo Ibama para se tornar legal, porém, dados indicam que cerca de 185 toneladas de mercúrio ilegal foram utilizadas na extração de ouro, entre 2018 e 2022.
De acordo com o levantamento, a intensa comercialização do metal pelo crime organizado é uma das principais causas das contaminações de quem vive ao redor de zonas garimpeiras.
Análises realizadas pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) serviram de base para as afirmações feitas pelo Instituto Escolhas. Segundo a Fiocruz, em 2019, por exemplo, o povo Munduruku tinha prevalência geral de exposição ao mercúrio de 57,9%. As 197 amostras de cabelo analisadas continham nível de mercúrio superior ao limite de 6 microgramas por grama, estipulado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
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“Nossos resultados sugerem que a exposição crônica ao mercúrio causa efeitos nocivos às comunidades indígenas estudadas, especialmente considerando grupos vulneráveis da população, como mulheres em idade fértil”, dizem os autores do artigo.
Outra pesquisa feita pela Fiocruz e pela Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), mencionada no estudo De onde vem tanto mercúrio, constata que 75,6% dos 462 adultos analisados, que viviam em áreas ribeirinhas e urbanas na bacia do baixo Tapajós, entre 2015 e 2019, continham mercúrio em quantidades acima do limite da OMS.
O mercúrio é despejado nos rios e contamina os peixes, que incorporam o metal e transmitem para o ser humano. Essa é uma das principais formas de absorção do elemento químico, levantada pelos apontamentos.
“Além das contaminações já estarem confirmadas por estudos, o que sabemos é que há muitos casos de contaminação que sequer são estudados e documentados, ou seja, há uma subnotificação de casos, então a situação da contaminação é muito mais grave e mais extensa do que já está mapeado”, destaca Larissa Rodrigues.
O estudo feito pelo Instituto Escolhas revela que países como a Bolívia, a Guiana e o Peru podem ser fornecedores ilegais de mercúrio para o Brasil. Essa afirmativa foi feita baseada em discrepâncias nos números de movimentações externas do mercúrio e da produção de ouro nesses países.
No dia 7 de outubro, o Correio promoverá, em parceria com o Instituto Escolhas, o evento Controles sobre o uso de mercúrio e o futuro da extração de ouro no Brasil. O intuito é debater a utilização do mercúrio na extração de ouro no Brasil e discutir possíveis soluções com o governo, o setor privado e a sociedade.
Mais informações sobre o evento no link https://eventos.correiobraziliense.com.br/controledomercurio.
Estagiária sob supervisão de Edla Lula