Maior floresta tropical do mundo, a amazônia abriga a maior bacia hidrográfica do planeta e sofre com a extensa e crescente poluição plástica na região. Apesar da gravidade do problema, que afeta cursos d’água, fauna, flora e a saúde da população, o tema ainda é pouco estudado pela ciência, afirma pesquisa feita pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.

Epidemiologista e coordenador da pesquisa, Jesem Orellana alerta para a falta de estudos sobre os potenciais danos da poluição plástica à saúde humana, especialmente de populações vulneráveis, como ribeirinhos, indígenas e quilombolas.

Por serem territórios dependentes dos rios para a sobrevivência, tanto para alimentação quanto para sustento, moradores de comunidades tradicionais acabam mais expostos aos microplásticos presentes na água e também nos peixes, parte importante da alimentação local.

Esses territórios, explica, não têm estrutura para descarte adequado do lixo, que muitas vezes é queimado a céu aberto nos quintais, o que leva à inalação de fumaça tóxica. Além disso, acúmulo de resíduos trazidos por rios de outros países.

A pesquisa chama atenção para a necessidade de investimento em estudos sobre prejuízos causados por nano e microplásticos à saúde. Para Jesem, a situação lembra o início das descobertas sobre mercúrio, quando não havia evidências sobre efeitos na saúde.

“Hoje parece distante, mas daqui a algumas décadas reconheceremos doenças associadas aos microplásticos.”

O grupo de pesquisadores analisou 52 artigos produzidos entre 2000 e 2025 para criar um panorama da literatura científica sobre poluição plástica (macro, meso, micro e nanoplástico). “São 25 anos de cobertura e isso caracterizou esse esforço como um dos mais abrangentes conhecidos sobre contaminação por plásticos na amazônia”, afirma.

Quase todos os estudos (90%) se concentram no Brasil, especialmente ao longo do rio Amazonas —quatro dos nove países amazônicos não registraram nenhum artigo sobre poluição plástica. Para o pesquisador, isso não significa ausência de problemas, mas sim carência de investimento em ciência: “Provavelmente a contaminação fora do Brasil é até maior, só não foi documentada.”

O número de estudos sobre a fauna, 61,5% do total, também chamou a atenção. A maioria deles sobre a contaminação de peixes de água doce, principal fonte de proteína da região. Para o epidemiologista, esse foco revela a importância do tema: os peixes são a principal fonte de proteína para comunidades tradicionais e para a região como um todo, tornando-se, também, um elo direto entre a poluição plástica e os riscos à saúde da população.

Ele reconhece que os esforços da ciência estão caminhando, mas afirma que a pesquisa sobre os efeitos da poluição plástica como um todo ainda engatinha, e a produção de evidências sobre a região amazônica é ainda mais recente, já que muitos estudos se concentram mais nos prejuízos do acúmulo de lixo nos oceanos.

“É um problema bem anterior ao ano 2000, mas que nós não identificamos pesquisas anteriores, porque não havia ainda uma uma preocupação importante por parte da comunidade científica”. Para ele, com a realização da COP30, conferência climática da ONU (Organização das Nações Unidas) que acontece em Belém, em novembro, a região vive uma janela de oportunidade importante para debater a temática.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *