O presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte, Gabriel Azevedo (MDB), deixa o legislativo belo-horizontino em 2025 após oito anos de mandato, marcado por rixas políticas, rompantes, polêmicas e renovações. Em conversa com a reportagem de O TEMPO, o vereador comentou a sua passagem pela Casa legislativa e afirmou que se arrepende, apenas, de alguns momentos de explosões temperamentais.
Confira a transcrição da íntegra da entrevista de Gabriel Azevedo:
Pergunta: Muita gente definiu o Gabriel Azevedo como uma pessoa que ou ama, ou odeia. O senhor concorda com essa análise?
Resposta: Vou citar um versículo bíblico: “seja quente, ou seja frio. Não seja morno, senão te vomito”. Eu tenho realmente alegria em ser alguém que se posiciona. Tenho convicções muito fortes quando defendo algum ponto de vista ou princípio. Obviamente, ter esse tipo de postura coloca pessoas a favor ao seu lado e pessoas que discordam em oposição, isso me parece fundamental na política. Muita gente prefere não se posicionar, mas não é o meu caso.
Pergunta: Falaram que “O Gabriel sabe movimentar muito o jogo político.” O que o senhor acha disso?
Resposta: Sem exceção, todos os 40 vereadores já fizeram parte de algum jogo em que eu estava ao lado. Todos já precisaram de mim para algum tipo de estratégia. Quando atuo a favor das pessoas, elas tecem elogios. Quando atuo contra, ficam repletas de raiva. O que eles podem admitir é que é melhor me ter como aliado do que como adversário.
Pergunta: O senhor tem algum arrependimento nessa história? Algo que você fez e pensa que errou ou poderia ter feito diferente?
Resposta: Já falei algumas vezes o que mudaria em mim, e tenho mudado a forma. Acredito que é possível exercer a política sem explosões. Sou intenso na forma de me expressar, e isso às vezes traz posturas desnecessárias. Também, não deveria ter brigado a pedido de outras pessoas. Muitas das brigas em que entrei foram a pedido de pessoas que queriam me ver brigando por algo que elas não tinham coragem de brigar. Desse ponto de vista, eu mudaria. De resto, todas as vezes em que atuei considerando que estava sendo coerente com meus princípios, faria tudo de novo.
Pergunta: Vou ler alguns adjetivos que recebemos de várias pessoas sobre você: arrogante, genial, autoritário, moderno, obsessivo, intelectual, vaidoso, trabalhador, temperamental e debochado. O que você acha desses adjetivos?
Resposta: Concordo absolutamente com todos. É verdade. A única coisa que me ofenderia é alguém me chamar de corrupto.
Pergunta: Você acha que a autocrítica faz diferença? Depois de uma legislatura conturbada que terminou com uma certa paz, você acha que tem melhorado?
Resposta: É raro encontrar na vida pública alguém que admite as falhas com tanta transparência quanto eu faço. Lido com a ideia de que as pessoas me criticam com profunda naturalidade. Quem não aceita isso não deveria fazer parte da vida pública. Não conheço outra pessoa ali dentro que estabeleceu para si e para a instituição metas tão claras e que conseguiu atingi-las em 100%.
O que me deixa feliz é perceber que, mesmo diante das adversidades, tudo o que me propus a fazer foi feito. Convido o cidadão que estiver lendo a pensar: se eu fosse vereador, como lidaria com a pressão permanente de vários colegas para deixar as coisas como estão? Se alguém se recordar de como era a Câmara em 2016 e como está hoje, pode imaginar que muita gente não queria mudança de práticas, de modelos de atuação parlamentar. Eu cheguei lá para mudar tudo. Falei isso desde o início: estou vindo para transformar o parlamento da cidade que amo. Ninguém vai aplaudir e dizer: “É isso mesmo, vamos mudar tudo”. A mudança vem acompanhada de resistência, e sempre atuei contra essa resistência.
Pergunta: O que você acha que vai deixar na Câmara? Qual será sua marca?
Resposta: Uma instituição transformada, do ponto de vista da transparência. Todo mundo sabe o que está acontecendo lá o tempo todo, inclusive pela permissão da imprensa de estar dentro do plenário. A imprensa tem hoje a vida facilitada na investigação do que acontece na Câmara, bem como a sociedade. Essa quantidade enorme de luz lançada dentro de uma instituição que já foi completamente podre incomoda muita gente. Como não houve corrupção nos contratos ou em outros procedimentos, quem entra na Câmara para ter vantagens próprias fica impedido de fazê-lo. Há aqueles que adoram utilizar a Câmara para fazer a cidade perder tempo, propondo projetos inconstitucionais, aquilo que sabem que não terá resultado efetivo para a população. Atuei permanentemente para que a Câmara não seja utilizada como um palanque de falsas propostas. Sempre tive uma postura clara de manter o poder legislativo independente. Muitas pessoas querem utilizar a Câmara para efetuar trocas com o poder executivo e outros agentes políticos para ter vantagens para si, e não para a cidade. A Câmara Municipal é lugar de discutir a cidade, e não temas que servirão a alguns vereadores para suas pretensas candidaturas, mas que não mudam a vida do cidadão.
Pergunta: Há um momento específico seu na Câmara que você destacaria como o mais impactante nesses últimos oito anos como vereador?
Resposta: Pela primeira vez desde a fundação da cidade, o poder legislativo de fato participou da discussão da mobilidade urbana, não como coadjuvante, mas como protagonista. Enfrentar esse sistema, que é hoje um dos maiores problemas da nossa cidade, é algo de que me orgulho. Seja com a CPI que revelou um cartel, seja com a proposição de leis que começaram a mudar a lógica do transporte na cidade, seja com o enfrentamento direto da prefeitura para garantir o melhor para a cidade, não para os empresários de ônibus. Essa foi uma marca de que tenho muito orgulho. Fazer as pessoas da favela usar o ônibus de graça e ser o pai da tarifa zero em Belo Horizonte.