A base avançada do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (CMA/ICMBio), localizada em Porto de Pedras, Litoral Norte de Alagoas, enfrenta um dos episódios mais delicados de sua história. Dois peixes-boi marinhos — Netuno e Paty — foram encontrados mortos nesta semana no recinto de aclimatação da unidade. Um terceiro animal, Assú, apresentou um quadro de saúde grave e precisou ser transferido às pressas para a base do CMA em Itamaracá, Pernambuco, onde segue sob cuidados intensivos.
Embora a causa oficial das mortes ainda não tenha sido confirmada, as primeiras investigações apontam a possibilidade de contaminação ambiental, possivelmente relacionada à poluição química da água que abastece o recinto. Por precaução, as atividades na base de Porto de Pedras foram temporariamente suspensas e uma apuração detalhada já foi iniciada.
A situação gerou comoção entre pesquisadores, ambientalistas e a comunidade local. A base de Porto de Pedras é um dos pilares do programa nacional de conservação do peixe-boi marinho, espécie ameaçada de extinção. Desde sua criação, o centro foi responsável por 38 das 50 solturas realizadas pelo Governo Federal em todo o país, além do registro de 20 nascimentos em cativeiro — resultados considerados expressivos no esforço de recuperação da população do animal no litoral brasileiro.
Apesar do baque emocional, os responsáveis pelo programa reforçam a importância do trabalho contínuo:
“Cada vida salva, cada soltura bem-sucedida representa um avanço na luta pela preservação do peixe-boi marinho. Reforçamos nosso compromisso com a transparência e com o bem-estar dos animais sob nossos cuidados. Novas informações serão divulgadas à medida que os resultados das análises forem concluídos, com apoio da APA Costa dos Corais/ICMBio, Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste/ICMBio, IBAMA e outros órgãos estaduais e federais”, afirmam em nota.
O Instituto Biota, parceiro nas ações de proteção dos mamíferos aquáticos em Alagoas, também acompanha o caso e apoia as investigações. A expectativa é de que, com o esclarecimento das causas, medidas preventivas mais robustas sejam adotadas para evitar novas perdas.
Em janeiro deste ano, o Biota divulgou a morte de três filhotes de peixes-boi que encalharam mortos, em menos de 24h, na Praia de Riacho Doce, no Litoral Norte de Maceió.
Na ocasião, o instituto informou que os encalhes aconteceram na foz do Rio Pratagy e outro na foz do Rio Riacho Doce. Os dois primeiros filhotes recém-nascidos estavam a menos de 1 km um do outro no ponto de encalhe. O terceiro mamífero também surgiu encalhado sem vida na região, na manhã do dia seguinte.
Conforme Eduardo Macedo, biólogo do CMA/ICMBio, as mortes dos filhotes em janeiro não têm ligação com estas de agora.
“É cedo para indicar alguma causa das mortes em Porto de Pedras. A primeira fase é a realização das análises da água do rio. Vão ser vistos diversos potenciais contaminantes. Também temos a necropsia e os exames clínicos de sangue. Quando os resultados saírem, acredito que teremos um norte para chegar às possíveis causas”, explicou Macedo.
Em nota, a Prefeitura de Porto de Pedras afirmou que as equipes técnicas estão acompanhando o caso. Veja a íntegra:
“A Prefeitura de Porto de Pedras, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, informa que acompanha a situação envolvendo dois peixes-boi marinhos que vieram a óbito nesta semana.
Desde o primeiro registro de adoecimento, as equipes técnicas da Prefeitura, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Instituto Biota de Conservação atuaram no monitoramento dos animais, prestando os devidos cuidados.
A causa das mortes ainda está sendo investigada e somente será confirmada após a conclusão dos exames de necropsia, que estão em andamento.
É importante destacar que os passeios de visitação aos peixes-boi, realizados no Rio Tatuamunha, seguem acontecendo normalmente. A atividade, que é referência no turismo, continua sendo uma oportunidade segura e responsável para que visitantes conheçam de perto esses animais em seu habitat natural, fortalecendo a conservação e gerando renda sustentável para a comunidade local.
Assim que os laudos forem concluídos, a Prefeitura vai adotar as medidas necessárias, em conjunto com os órgãos ambientais competentes, para garantir a proteção da espécie e a segurança do habitat natural.
A gestão municipal reforça que mantém um compromisso permanente com a preservação dos peixes-boi e a conservação em todo o território do município, reconhecidos como patrimônios natural e cultural de Porto de Pedras.”