Vazamento de gás em dezembro de 1984 se tornou um dos piores desastres industriais da história, com cerca de 4 mil mortes e 200 mil contaminados
Quatro décadas após um dos piores desastres industriais da história, a cidade indiana de Bhopal ainda luta para se recuperar das sequelas do vazamento de gás tóxico na fábrica da Union Carbide.
Uma operação de limpeza iniciada recentemente trouxe um raio de esperança, mas também expôs a complexidade e a lentidão do processo de remediação e as disputas em torno da responsabilidade pelas vítimas. Estima-se que o incidente deixou por volta de 4.000 mortes e cerca de 200.000 pessoas intoxicadas.
A remoção de 337 toneladas de resíduos tóxicos, embora seja um passo importante, representa apenas uma pequena fração do material contaminante presente na região.
Ativistas locais denunciam a medida como um mero exercício de “greenwashing”, que consiste em uma prática de marketing enganoso que visa fazer com que uma empresa pareça mais sustentável do que realmente é, alegando que a maior parte da contaminação permanece no solo e nas águas subterrâneas, causando sérios danos à saúde da população.
Controvérsias
Segundo o ‘The Guardian’, a decisão de incinerar os resíduos em outra cidade gerou ainda mais controvérsia, com comunidades locais expressando preocupação com a possibilidade de contaminação adicional e a falta de segurança do processo. A incineração, além de gerar novos resíduos tóxicos, não resolve o problema da contaminação do solo em Bhopal.
Rachna Dhingra, coordenadora da Campanha Internacional pela Justiça em Bhopal, condenou veementemente a decisão do governo de incinerar os resíduos em Pithampur, uma usina com histórico de falhas em testes de segurança.
Essa medida, além de gerar 900 toneladas de novos resíduos tóxicos, expõe a população local a ainda mais contaminação, como temem os moradores de Pithampur, que já sofreram com a poluição da água subterrânea.
Swatantra Kumar Singh, diretor do departamento de assistência e reabilitação do governo estadual de Bhopal, garantiu que a incineração dos resíduos não traria riscos à região, prometendo um descarte ambientalmente seguro. No entanto, essa afirmação contrasta com a opinião de diversos moradores e ativistas, que temem um agravamento da contaminação e novas ameaças à saúde.
A percepção do desastre de Bhopal como um contínuo erro judiciário é amplamente compartilhada. O acordo de 1989, que ofereceu indenizações irrisórias à maioria das vítimas, e a impunidade dos condenados em 2010 reforçam essa visão.
A Dow Chemicals, por sua vez, insiste em sua não responsabilidade criminal, enquanto ativistas acusam o governo dos Estados Unidos de obstruir a justiça ao bloquear a extradição de funcionários envolvidos no desastre.