A alta de casos de gastroenterite, infecção que acomete o estômago e o intestino, no Guarujá, litoral paulista, foi classificada como um surto pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP), que monitora o cenário. Os atendimentos no município explodiram no fim de ano e repercutiram com diversos relatos de vômitos, náuseas, cólicas e diarreia nas redes sociais.

À Agência Brasil, a diretora da Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar da pasta, Alessandra Lucchesi, disse ainda ser preciso confirmar algumas informações para entender a extensão do surto.

A secretaria acompanha ainda a situação em cidades vizinhas, como Praia Grande e Santos, mas diz que o aumento de casos em outros locais ainda está sendo investigado para averiguar se também pode se falar em surto.

Um surto ocorre quando há um volume maior de casos de determinada doença do que o esperado para aquele período e local. No verão, já são esperadas mais ocorrências de infecções gastrointestinais – assim como no inverno há o crescimento dos agentes respiratórios.

Porém, houve um aumento além do esperado no Guarujá para essa época. Segundo a prefeitura, foram registrados 2.064 atendimentos em dezembro, contra 1.457 em novembro.

Já a Prefeitura de Praia Grande diz que houve um aumento de casos após a virada. Porém, afirma que são “devido ao elevado número de turistas que visitaram a cidade, com pico de cerca de 2 milhões de pessoas na semana das festas de final de ano”, e que, “apesar do aumento de ocorrências, isso não se caracterizou como um surto”.

Em Santos, a Secretaria Municipal de Saúde também reconhece que houve aumento nos casos de viroses, mas diz que “a capacidade atual está sendo suficiente, até o momento”. Foram registrados 1.339 atendimentos do tipo na cidade entre o dia 1º e 12h desta segunda-feira.

A pasta cita que “Santos é uma cidade turística, que historicamente registra um grande aumento da população flutuante entre os meses de dezembro e fevereiro”.

As causas ainda são também alvo de investigação, explicou Alessandra, e a transmissão, que pode ser hídrica (pela água) ou alimentar:

— Nesse contexto do litoral, a gente verifica tanto a qualidade da água do mar, tanto a água própria para consumo humano. Investigam-se quais foram as possíveis fontes de água que foram utilizadas, se foi a água do sistema de abastecimento público, se foi água de poço, se foi alguma outra água que foi adquirida. Todas essas questões ainda estão em processo de investigação.

A Prefeitura do Guarujá disse suspeitar que vazamentos clandestinos de esgoto nas praias possam estar por trás da contaminação e, consequentemente, dos casos. O município afirmou ter acionado a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).

Em nota, a companhia disse que o surto “não tem relação com a operação da empresa” e que “os sistemas de água e esgoto da Baixada Santista estão operando normalmente e são monitorados 24 horas por dia”.

A Prefeitura também encaminhou amostras para análise no Instituto Adolfo Lutz para identificar qual a causa exata da gastroenterite. Isso porque o termo “virose” é utilizado de forma mais ampla para se referir a um conjunto de sintomas semelhantes – neste caso, os gastrointestinais –, mas eles podem ser causados por diferentes vírus ou outros microrganismos, como bactérias.

Leonardo Weissmann, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, e professor da Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP), explica que, em casos de surtos, o mais provável é que a causa seja viral. Os agentes mais comuns são os norovírus e os rotavírus.

— Se for alguma bactéria, a gente leva mais ou menos dez dias para conseguir ter esse resultado. Se for vírus ou parasita, o resultado sai muito mais rápido — falou Alessandra. Em caso de infecção bacteriana, possíveis agentes são Escherichia coli (especialmente cepas como E. coli enterohemorrágica), Salmonella, Shigella, Vibrio cholerae (cólera) e Campylobacter, diz Weissmann.

— Esses agentes são transmitidos, em sua maioria, pela via fecal-oral. Isso ocorre principalmente pela ingestão de água ou alimentos contaminados, como frutos do mar mal preparados ou lavados com água imprópria para consumo, algo comum em surtos relacionados ao esgoto. O contato com água contaminada no mar, rios ou piscinas também representa um risco significativo — explica o especialista.

Além disso, ele conta que a contaminação pode ocorrer pelo contato direto com pessoas infectadas ou superfícies contaminadas: — Em alguns casos, especialmente em ambientes fechados, partículas de vômito ou fezes podem se dispersar pelo ar, contribuindo para a transmissão. O norovírus é um exemplo de patógeno altamente contagioso, facilmente transmitido por contato direto ou por superfícies infectadas.

Segundo informações do Ministério da Saúde, as chamadas doenças infecciosas gastrointestinais são geralmente autolimitadas com duração de até 14 dias. No entanto, a depender de qual o agente causador e do histórico do paciente, podem evoluir clinicamente para quadros de desidratação que variam de leve a grave.

Alguns fatores que favorecem uma infecção são:

  • Ingestão de água sem tratamento adequado;
  • Consumo de alimentos sem conhecimento da procedência, do preparo e armazenamento;
  • Consumo de leite in natura (sem ferver ou ser pasteurizado) e derivados;
  • Consumo de produtos cárneos e pescados e mariscos crus ou mal cozidos;
  • Consumo de frutas e hortaliças sem higienização adequada;
  • Viagem a locais em que as condições de saneamento e de higiene sejam precárias;
  • Falta de higiene pessoal.

— Aglomerações típicas de períodos de férias e altas temperaturas, que favorecem a proliferação de microrganismos, contribuem para a disseminação dessas doenças — acrescenta Weissmann.

O tratamento é focado em evitar a desidratação por meio da ingestão de líquidos e solução de sais de reidratação oral ou fluidos endovenosos, em casos mais graves, enquanto o sistema imunológico combate o microrganismo. Medicamentos podem ser utilizados para auxiliar nos sintomas, como remédios para enjoo e analgésicos nos casos de cólicas.

Para se proteger de doenças infecciosas gastrointestinais, o Ministério da Saúde recomenda:

  • Lavar sempre as mãos com sabão e água limpa principalmente antes de preparar ou ingerir alimentos, após ir ao banheiro, após utilizar transporte público ou tocar superfícies que possam estar sujas, após tocar em animais, sempre que voltar da rua, antes e depois de amamentar e trocar fraldas;
  • Lavar e desinfetar as superfícies, os utensílios e equipamentos usados na preparação de alimentos;
  • Proteger os alimentos e as áreas da cozinha contra insetos, animais de estimação e outros animais (guarde os alimentos em recipientes fechados);
  • Tratar a água para consumo (após filtrar, ferver ou colocar duas gotas de solução de hipoclorito de sódio a 2,5% para cada litro de água, aguardar por 30 minutos antes de usar);
  • Não utilizar água de riachos, rios, cacimbas ou poços contaminados para banhar ou beber;
  • Evitar o consumo de alimentos crus ou mal cozidos (principalmente carnes, pescados e mariscos) e alimentos cujas condições higiênicas, de preparo e acondicionamento, sejam precárias;
  • Ensacar e manter a tampa do lixo sempre fechada; quando não houver coleta de lixo, este deve ser enterrado em local apropriado;
  • Usar sempre o vaso sanitário, mas se isso não for possível, enterrar as fezes sempre longe dos cursos de água;
  • Evitar o desmame precoce, já que manter o aleitamento materno aumenta a resistência das crianças contra as diarreias.

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By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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