O rendimento de dividendos (dividend yield) do S&P 500 recuou para aproximadamente 1,15%, nível que se aproxima dos patamares observados apenas durante a bolha das pontocom, no início dos anos 2000. A avaliação é da Trivariate Research, que recorda que o retorno em dividendos só foi menor quando atingiu 1,09% naquele período.De acordo com Adam Parker, fundador da consultoria, o enfraquecimento do índice de dividendos reflete a crescente predominância das gigantes de tecnologia no S&P 500, empresas que, em sua maior parte, distribuem pouco ou nenhum recurso aos acionistas. Parker observa que o setor tecnológico representa atualmente 35% da composição do índice e responde de maneira decisiva pela compressão do rendimento total.Embora 56% das empresas do S&P 500 ainda paguem dividendos, proporção consistente com as últimas duas décadas, a estrutura de mercado mudou. “São claramente as maiores companhias por valor de mercado, com dividendos baixos ou inexistentes, que determinam o regime atual”, afirma Parker. Ele cita como exemplos Nvidia, com yield de 0,02%, Microsoft, com 0,76%, e Alphabet, com 0,29%, todas entre as empresas de melhor desempenho em 2025, mas entre as que menos remuneram acionistas.
O avanço dessas companhias, impulsionado sobretudo pelo entusiasmo em torno da inteligência artificial, contribuiu para a renovação das máximas históricas do S&P 500 neste ano, apesar da volatilidade observada nas últimas semanas.Correção em tecnologia pressiona ações pagadoras de dividendosO setor de tecnologia vem enfrentando questionamentos sobre valuations e incertezas quanto à trajetória da política monetária do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA). O mercado mais amplo chegou a registrar recuperação na sexta-feira, depois de uma sessão de fortes perdas na quinta, mas o ambiente permaneceu instável.A Nvidia, que reportou resultados considerados “expressivos” por Parker, encerrou a quinta-feira em queda e terminou a sessão seguinte em leve recuo. A ação acumula alta de 33% no ano, mas registra perda de 12% no mês. Segundo Parker, as ações pagadoras de dividendos atravessam seu terceiro pior ciclo dos últimos 25 anos, em grande parte porque os fluxos continuam se direcionando a empresas com rendimentos praticamente nulos.
Continua depois da publicidade
Setores tradicionalmente defensivos e de alto rendimento, como bens de consumo essenciais, telecomunicações e farmacêuticas, também têm apresentado desempenho fraco. Apesar disso, Parker aponta resiliência entre empresas que vêm ampliando sua distribuição de dividendos. Desde a pandemia, afirma ele, companhias que elevaram seus pagamentos superaram ligeiramente seus respectivos grupos setoriais, com destaque para os segmentos de real estate, utilities e energia.O analista também chama atenção para o desempenho acima da média de empresas que aumentaram dividendos mantendo-se no grupo com menor payout, abaixo de 16,2%. De acordo com Parker, essas companhias tendem a superar suas concorrentes ao longo dos dois próximos anos.Ações que pagam dividendos ganham espaço Com base nesses critérios, Parker elaborou uma lista de recomendações composta por empresas que ampliaram recentemente seus dividendos e permanecem no quintil inferior de payout.
Entre elas está a Cinemark Holdings, que elevou em 12,5% seu dividendo trimestral no início do mês. A disribuição será efetiva em 12 de dezembro para acionistas registrados até 28 de novembro. O dividend yield da empresa subiu para 1,24%. A Cinemark reportou receita acima do esperado no terceiro trimestre, mas lucro abaixo das projeções, e informou ter quitado dívidas remanescentes do período da pandemia. Simultaneamente, anunciou um programa de recompra de ações de US$ 300 milhões. O papel possui recomendação overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra) e potencial de valorização estimado em 16%, embora acumule queda de 5% no ano.Outro destaque da lista é a Capital One Financial, que aumentou seu dividendo trimestral de US$ 0,60 para US$ 0,80, um avanço superior a 30%, com pagamento previsto para 1º de dezembro. O rendimento atual é de 1,58%. A instituição divulgou lucro de US$ 4,83 por ação no terceiro trimestre, acima da projeção de US$ 4,38. A ação sobe 17% no ano e tem recomendação overweight, com potencial de alta de 26%.A terceira empresa citada é a Cheniere Energy, que elevou seu dividendo trimestral de US$ 0,50 para US$ 0,55, resultando em yield de 1,07%. A companhia conta com recomendação de compra e projeção de valorização de 32%, embora registre recuo superior a 4% no acumulado do ano.
Continua depois da publicidade
