
Fábrica da Volkswagen em São José dos Pinhais, no Paraná
Foto: Divulgação/Volkswagen
Volkswagen e Renault estão usando canhões anti-granizo com explosões hipersônicas para proteger suas fábricas no Brasil, como acontece em São José dos Pinhais (PR), na fábrica da VW. Equipamentos de R$ 500 mil disparam ondas sonoras a cada sete segundos, quebrando o granizo na estratosfera antes que ele atinja o solo como chuva inofensiva, uma solução que veio da Europa e já salva lavouras – e agora os pátios das montadoras.
O primeiro canhão anti-granizo do Brasil foi implementado na fábrica da Renault, também em São José dos Pinhais, como divulgou José Possebon, vereador da cidade, em novembro de 2022.
Em fábricas como a da Volkswagen, no Paraná, o sistema usa explosões controladas de gás acetileno para gerar ondas hipersônicas que atingem as nuvens.
Um vídeo postado por um usuário no Instagram mostrou o barulho característico do equipamento em ação, intrigando quem ouviu os “estrondos” vindos da fábrica. O objetivo, nesse caso das montadoras, é proteger os carros estacionados nos pátios contra chuvas de granizo, que podem causar prejuízos milionários ao danificar carrocerias e vidros.
Cada canhão, que custa cerca de R$ 500 mil, segundo a apuração do G1, em dezembro de 2023, e consegue proteger uma área de 80 hectares – equivalente a 800 mil metros quadrados – em apenas 15 minutos. Ele dispara automaticamente a cada sete segundos quando detecta nuvens carregadas, usando monitoramento por satélite para identificar ameaças.
O canhão usa gás acetileno, que, ao ser misturado com o oxigênio do ar em uma câmara de combustão, provoca uma explosão controlada de 15 mil joules, gerando um som de 80 decibéis – parecido com um trovão baixo. Essa explosão cria ondas de choque hipersônicas, direcionadas ao céu por um funil especial. Essas ondas sobem até a estratosfera, a cerca de 10 a 50 km de altitude, onde encontram as camadas de nuvens carregadas de gelo.

Complexo Ayrton Senna, sede da Renault, está localizado em São José dos Pinhais, no Paraná
Foto: Divulgação/Renault
Ao atingir o granizo em formação, as ondas sonoras causam turbulência e vibrações que quebram os cristais de gelo em pedaços menores. Esses fragmentos, muito reduzidos, não resistem à queda e derretem nas camadas mais quentes da atmosfera, e se transformam em gotas de chuva.
A tecnologia não é nova. Na Europa, canhões anti-granizo são usados desde o início do século 20, especialmente em regiões agrícolas como França e Itália, para proteger vinhedos e plantações de frutas.
O método evoluiu com o tempo: os primeiros modelos usavam explosivos simples, como pólvora, mas os atuais, como os da Renault e Volkswagen, apostam no acetileno por sua combustão limpa – ele se transforma em dióxido de carbono e vapor d’água, sem deixar resíduos nocivos.
No Brasil, além das montadoras, fazendas também começaram a investir nesses equipamentos para evitar perdas com o granizo, que pode devastar colheitas em minutos.
Os sensores meteorológicos detectam nuvens com potencial de granizo e analisam sua densidade e temperatura. Quando o risco aparece, o canhão é ativado automaticamente. Cada disparo consome uma pequena quantidade de acetileno, armazenado em tanques seguros, e o funil amplifica as ondas para cima, reduzindo o impacto sonoro no solo – ainda assim, o barulho de 80 dB a 50 metros pode assustar quem não sabe do que se trata.
Porém a eficácia de derreter o gelo do granizo depende do timing, isso porque o canhão precisa agir antes que o granizo esteja completamente formado.
Em 2018, a Volkswagen enfrentou críticas no México por usar canhões anti-granizo em sua fábrica de Puebla. Fazendeiros locais culparam o equipamento por uma seca, dizendo que ele “espantava” a chuva. A montadora negou, afirmando que o foco é só o granizo, não a chuva em si.