Entre o lixo e o arquivo, os jornais são perfeitos para deixar as janelas de vidro brilhantes, sem deixar resíduos. O jornal não deixa fiapos. Ainda assim, deixa um rasto — ficamos com os dedos escuros e secos devido à tinta.

Memória Fantasma mostra Yonamine a mexer mais uma vez na memória angolana e nas páginas do Jornal de Angola, retomando o trabalho que começou em 2013. Tinta preta sobre papel cinzento, corpos negros em primeiro plano, com o capitalismo colonial branco ainda detrás, castanho por baixo de ambos.

Trabalhando com cartão, Yonamine recupera o papel e o passado, trazendo-os de volta e dando-lhes um novo brilho. Memória Fantasma, tal como o jornal da parede tão comum em 1975 e 1976 na Angola recém-independente, reforça o papel, torna-o vertical, dá-lhe uma espinha dorsal. Aplicando pressão, cortando a superfície, Yonamine transforma os media num meio – o meio da sua arte, o meio que canaliza os espíritos. Não varras à noite, para não chamar os kalundus, dizem em Luanda.

Em todo o mundo, temos varrido à noite. Espíritos inquietos possuem-nos. A ligação entre fascismo e colonialismo que Aimé Césaire discerniu é o pão nosso de cada neste início do século XXI. De plataforma em plataforma, consumimos as imagens, inflamamo-nos de raiva, eriçamo-nos de medo, temos os nossos corações partidos, ficamos sem dormir de tristeza. E não é apenas fora de nós, não é só algo que vem de fora para dentro – líderes corruptos, condições económicas injustas, desastre ecológico. Nós participamos. «Aceitamos os termos e condições» com um clique, várias vezes ao dia.

Marissa J. Moorman

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By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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