Ó premiado espetáculo “Azira’i”, interpretado pela atriz Zahy Tentehar, chega à capital paraense pára duas apresentações não Teatro da Paz, nos dias 21 e 22 de outubro, às 20h. Vencedora do Prêmio Shell de Melhor Atriz em 2024Zahy apresenta um solo autobiográfico que parte de sua relação com a mãeque dá nome ao espetáculo, a primeira mulher pajé da reserva indígena Cana Brava, no Maranhão. Os ingressos são vendidos online pelo Ticket Fácil.
No palco, a artista une teatro, canto e ancestralidade, abordando temas universais como a relação entre mãe e filha, a espiritualidade e a resistência dos povos indígenas. Em entrevista, Zahy explicou que, embora o espetáculo seja sobre suas vivências, a narrativa desperta identidade em diferentes públicos.
“Todo mundo se registra um pouco ali, porque é sobre relação de mãe e filha. Quando dou vida à minha mãe no palco, muitas pessoas enxergam como suas próprias mães ou avós. É a minha história, mas também é uma história coletiva, que fala sobre o Brasil e sobre os processos de aculturamento que atingem os povos indígenas”, disse ao Grupo Liberal.
Solo autobiográfico parte da relação da atriz com a mãe, a primeira mulher pajé da reserva Cana Brava (MA). (Daniel Barbosa)
A atriz também falou sobre a importância de contar a história de uma perspectiva genuína, livre de romantizações sobre os povos indígenas. “É uma história que é minha, mas também representa a verdade de muitos brasis. É muito libertador poder falar sobre o ser indígena de maneira mais humana, sem estereótipos ou discursos políticos. Quero contar a trajetória de uma pessoa, como tantas outras, que saiu de sua aldeia, foi para a cidade, aprendeu outra língua e viveu uma relação profunda com a mãe”, refletiu.
Dirigido por Denise Stutz e Duda Rios, e produzido pela Sarau Cultura Brasileira, a montagem tem ganhado destaque no Brasil e no exterior, após passar por cidades como Chicago, Bogotá, Santiago e Avignon, na França, onde recebeu elogios de veículos como Le Monde e Libertação.
A atriz, que alterna falas em português e em Ze’eng eté – sua língua materna -, descreve o espetáculo como uma experiência sensorial. Segundo ela, “Azira’i” ultrapassa o formato tradicional do teatro.
“Mais do que assistir, é um espetáculo para viver. É uma experiência de sentir, de estar presente. A dramaturgia é costurada pela minha língua originária e pelas memórias que carrega da minha mãe”, conto.
Zahy também revelou que a ideia do espetáculo surgiu em 2019, a partir de conversas com a diretora e dramaturga Duda Rios, quando ambos integraram o elenco da peça ‘Macunaím’a, dirigida por Bia Lessa. “O Duda curioso ficou sobre a minha infância na aldeia e as histórias da minha família. Um dia, ele disse que deveria fazer uma peça sobre isso. Fomos escrevendo aos poucos, até entender que tudo girava em torno da minha mãe. Ela acabou se tornando o centro da narrativa”, lembrou.
Durante o processo de criaçãoAzira’i faleceu na pandemia, em 2021, o que transformou profundamente o significado do espetáculo para Zahy. “Eu costumo dizer que faço o espetáculo com a minha mãe, não sobre ela. Sinto que ela está ali comigo. É uma experiência espiritual, um processo de cura. A cada apresentação, é como se eu dialogasse com ela de novo”, afirmou a atriz emocionada.
Sobre a expectativa para se apresentar em BelémZahy destacou o sentimento de proximidade com o público paraense. “O Pará é quase uma extensão do Maranhão. Tem muitas semelhanças: o povo Tembé, a língua, a comida, o jeito das pessoas. Estar no Theatro da Paz é uma grande honra. É um espaço simbólico, de muita força, e eu estou muito curioso para ver como o público vai receber o espetáculo”, declarou.
Com direção musical de Elísio Freitas, o mesmo responsável pelo álbum ‘Nordeste Ficção’, de Juliana Linhares, o espetáculo que chega ao Pará combina canto, narrativa e performance artística.
No palco, Zahy transforma memórias em arte, em um diálogo entre passado e presente que reverbera nas emoções do público. “O espetáculo cura, em mim e nos outros. As pessoas me contam suas próprias histórias depois das apresentações. Acho que é isso que a arte faz: conectar e transformar”, disse. A peça é produzida pela Sarau Cultura Brasileira e apresentada pela Petrobras.
Reconhecimento
Em 2024, um artista eleito o Prêmio Shell de Melhor Atriz – sendo um primeira mulher indígena conquistando o título. Para Zahy, a conquista de um marco coletivo. “No começo, eu não tinha noção de que recebi o prêmio, mas depois entendi o tamanho disso. Hoje me sinto lisonjeada e quero que outros parentes também cheguem lá, que outros artistas indígenas sejam premiados e ocupem esses espaços. A gente merece”, afirmou.
Ela também é roteirista, diretora, artista plástica e ativista brasileira. No audiovisual, Zahy se destacou por suas atuações na minissérie ‘Dois Irmãos’ (2017), no filme ‘Não Devore Meu Coração’ (2017), no documentário ‘Uýra: A Retomada da Floresta’ (2022) e nas séries ‘IndependênciaS’ (2022) e ‘Cidade Invisível’ (2021).
No cinema, participou ainda dos curtas ‘Semente Exterminadora’ (2017) e ‘Zahy: Uma Fábula do Maracanã’ (2012), este último também contratado por ela como roteirista.