A intoxicação por metais pesados é um problema crescente e, muitas vezes, silencioso. Embora nem sempre os sintomas sejam específicos, a presença dessas substâncias no organismo pode trazer consequências sérias, sobretudo em exposições contínuas. A medicina tem avançado no diagnóstico e no tratamento, mas especialistas reforçam a importância da prevenção e da atenção a sinais precoces.
Essa condição, antes associada apenas a trabalhadores expostos em ambientes industriais, hoje também atinge pessoas comuns, seja pela alimentação, seja pela poluição ou até pelo uso de produtos do dia a dia. “Eles entram por água, ar, alimentos, poeira, cosméticos ou ocupação, atravessam a placenta e, às vezes, a barreira hematoencefálica. Depois, podem se depositar em ossos, rins, fígado e cérebro por anos”, explica o médico Fabricio Brito, pós-graduado em nutrologia e CEO da Clínica Fitbody.
Entre os metais mais comuns que afetam a saúde humana estão chumbo, mercúrio, cádmio, arsênio, cromo VI, níquel, manganês e cobalto. Um exemplo de exposição alimentar é o consumo de peixes grandes e predadores, como tubarão e peixe-espada, principais fontes de mercúrio. De acordo com Fabricio, deve-se priorizar espécies menores, como salmão, sardinha, anchova e tilápia.
A nutricionista Isabelle Zanoni destaca que, na alimentação, o maior risco são agrotóxicos, água contaminada e cereais cultivados em solo contaminado. Além disso, para evitar o contágio, é importante checar se panelas e utensílios estão íntegros, sem riscos nas superfícies antiaderentes, e comprar peixes de boa qualidade.
Fora cuidar da água e priorizar orgânicos, a dieta deve conter alimentos variados que ajudam a proteger o organismo contra o acúmulo de metais pesados, como alho, cebola , brócolis, spirulina, chlorella, couve, rúcula, laranja, morango, kiwi, acerola, azeite, sementes, castanhas e ovos. Segundo Isabelle, procurar cosméticos, desodorantes e maquiagens naturais, sem alumínio, chumbo e mercúrio, não fumar e, sempre que possível, estar na natureza respirando um ar menos poluído também são hábitos cruciais.
O que são
Metais pesados, como chumbo, mercúrio, arsênio e cádmio, podem se acumular no organismo, causando danos que variam conforme o tipo, o tempo e a intensidade da exposição.
Principais metais envolvidos
-
Chumbo – presente em tintas antigas, encanamentos e combustíveis.
-
Mercúrio – encontrado em alguns peixes e em atividades industriais.
-
Arsênio – pode estar presente na água ou em ambientes contaminados.
-
Cádmio – associado a baterias, fumo e poluentes industriais.
Como entram no organismo
Esses metais podem ser ingeridos, inalados ou absorvidos pela pele. As principais vias de entrada incluem:
- Ingestão (principal via)
- Inalação
- Pele e mucosas
- Transcutânea
- Transplacentária e leite materno
Quem é mais vulnerável
- Crianças pequenas e fetos (e gestantes/lactantes): maior absorção intestinal, sistema nervoso em desenvolvimento e passagem transplacentária/leite materno (ex.: chumbo, mercúrio)
- Pessoas com carências nutricionais (ferro, cálcio, zinco)
- Trabalhadores expostos (mineração, fundição, solda, reciclagem de baterias, joalheria)
- Moradores próximos a fontes industriais ou áreas com solo/água contaminados
- Quem consome com frequência peixes de topo de cadeia
- Populações com água de poço contaminada por arsênio
- Tabagistas e alguns usuários de vapes
- Pessoas com doença renal ou hepática (menor depuração)
- Indivíduos com fatores genéticos que alteram a toxicocinética
Sintomas
As manifestações clínicas variam conforme o metal e o grau de exposição.
Exposição aguda: sintomas gastrointestinais, neurológicos e respiratórios intensos.
Exposição crônica: alterações neurológicas, renais e cardiovasculares, muitas vezes inespecíficas.
- Gastrointestinais: náuseas, vômitos, dor abdominal tipo cólica, diarreia ou constipação
- Neurológicos/psiquiátricos: cefaleia, formigamento, fraqueza, tremor, ataxia, perda de memória e concentração, irritabilidade, insônia, depressão ou ansiedade
- Constitucionais: fadiga intensa, perda de apetite/peso, gosto metálico
- Dermatológicos: erupções, dermatite de contato
- Hematológicos: anemia (especialmente com chumbo)
- Renais/hepáticos: urina espumosa/proteinúria, elevação de creatinina, alteração de enzimas hepáticas
- Cardiovasculares/respiratórios: hipertensão (chumbo/cádmio), tosse, dispneia, chiado (cromo VI, cádmio)
- Reprodutivos/endócrinos: infertilidade, distúrbios menstruais, queda de libido
- Em crianças: irritabilidade, atraso de fala/aprendizado, queda no rendimento escolar, comportamento hiperativo, baixo crescimento
Diagnóstico
O diagnóstico é feito por exames laboratoriais de sangue e urina, considerados os métodos mais confiáveis para detectar intoxicação e avaliar o grau de exposição.
Tratamento
O tratamento depende do tipo e da gravidade da intoxicação:
- Agudos e graves: uso de medicamentos quelantes, que se ligam ao metal e facilitam sua eliminação.
- Exposições crônicas: mudanças de hábitos, ajustes na dieta e suplementação para reduzir os níveis no organismo.
Prevenção
-
Identificar e evitar as fontes de exposição
-
Incluir alimentos antioxidantes na dieta, que ajudam a combater o estresse oxidativo causado pelos metais
-
Procurar avaliação médica diante de sintomas persistentes
Como consumir peixe com segurança
-
Prefira espécies pequenas e de ciclo curto
-
Em geral, 2–3 porções por semana de peixes com baixo teor de mercúrio são consideradas seguras
-
Ao pescar em rios ou lagos locais, siga os avisos regionais de consumo
Fatores de risco
-
Exposição ocupacional em ambientes contaminados
-
Consumo frequente de alimentos ou água contaminados
-
Tabagismo
-
Predisposição individual à intoxicação
Quando testar
Na medicina preventiva, exames básicos são feitos ao menos uma vez por ano ou a cada seis meses, em caso de exposição. Monitorização frequente é indicada apenas quando há risco comprovado ou suspeita clínica.
Principais situações:
-
Exposição ocupacional/ambiental: mineração, reciclagem de baterias, solda, pintura com chumbo, estandes de tiro, cerâmica com esmalte de chumbo, água de poço (arsênio), derramamentos industriais
-
Consumo elevado de peixes predadores (mercúrio) ou suplementos/fitoterápicos de procedência duvidosa
-
Grupos vulneráveis: crianças em áreas de risco, gestantes, trabalhadores expostos
-
Sintomas compatíveis: dor abdominal, neuropatia, tremores, alteração cognitiva, anemia, insuficiência renal, infertilidade, alterações cutâneas
Mudanças no dia a dia para evitar contaminação
A nutricionista Isabelle Zanoni destaca que, na alimentação, o maior risco são agrotóxicos, água contaminada e cereais cultivados em solo contaminado. Além disso, para evitar o contágio, é importante checar se panelas e utensílios estão íntegros, sem riscos nas superfícies antiaderentes, e comprar peixes de boa qualidade.
Fora cuidar da água e priorizar orgânicos, a dieta deve conter alimentos variados que ajudam a proteger o organismo contra o acúmulo de metais pesados, como alho, cebola , brócolis, spirulina, chlorella, couve, rúcula , laranja, morango, kiwi, acerola, azeite , sementes, castanhas e ovos. Segundo Isabelle Zanoni, procurar cosméticos, desodorantes e maquiagens naturais, sem alumínio, chumbo e mercúrio, não fumar, e, sempre que possível, estar na natureza respirando um ar menos poluído também são hábitos cruciais.
Palavra do especialista
O diagnóstico precoce é decisivo para evitar complicações?
Sim, identificação precoce permite remover a fonte, tratar quando indicado e evitar danos irreversíveis, especialmente em crianças e gestantes
Mudanças na alimentação e suplementação podem ajudar no tratamento ou apenas na prevenção?
Podem ajudar em ambos, mas não substituem o tratamento médico. Corrigir deficiências nutricionais e manter dieta equilibrada auxilia na prevenção e pode ser coadjuvante em casos leves.
Em casos mais leves, é possível eliminar os metais pesados apenas com mudanças de hábitos?
Sim, em exposições leves o organismo elimina boa parte dos metais com hábitos adequados, dieta segura, hidratação e controle nutricional. Níveis elevados ou sintomas exigem avaliação médica.
Fonte: Dr. Fabricio Brito