Uma explosão estelar pode ter deixado sua assinatura nas profundezas do oceano. Pesquisadores descobriram sedimentos com alta concentração de berílio-10, um isótopo produzido pela colisão de partículas cósmicas com a atmosfera terrestre. O achado, descrito na revista Astronomy & Astrophysics, sugere que uma supernova próxima iluminou o céu do Mioceno e bombardeou a Terra com radiação há cerca de 10 milhões de anos.

O rastro de uma estrela que morreu

Doble Estrela
© Credit: ESO/P. Das et al. Background stars (Hubble): K. Noll et al. – Gizmodo

O berílio-10 é uma espécie de cronômetro cósmico: ele se forma quando raios cósmicos — partículas altamente energéticas vindas do espaço — atingem a atmosfera da Terra, criando isótopos que acabam se depositando em solos e oceanos.
Quando os cientistas analisaram amostras do fundo do Pacífico, encontraram níveis de berílio-10 muito acima do normal. A concentração extrema, datada em cerca de 10 milhões de anos atrás, não podia ser explicada apenas por processos terrestres.

O sinal apontava para algo maior — literalmente fora deste mundo. A hipótese mais provável? Uma supernova próxima, uma explosão colossal de uma estrela massiva que teria lançado uma chuva de partículas em direção à Terra.

A pista cósmica do berílio-10

Estudar traços de supernovas antigas é como reconstruir o percurso do Sistema Solar pela galáxia. Os cientistas precisam cruzar a posição estimada da Terra no passado com a de possíveis aglomerados estelares capazes de abrigar estrelas que explodiram naquele período.

A nova pesquisa indica que há 68% de probabilidade de que uma supernova tenha ocorrido a cerca de 360 anos-luz de distância entre 11 e 10 milhões de anos atrás.
Entre os 2.700 aglomerados analisados, 19 apresentam mais de 1% de chance de terem abrigado a estrela responsável, com destaque para os grupos ASCC 20 e OCSN 61, ambos próximos à região de Órion, rica em estrelas jovens e massivas.

Um impacto real, mas sutil

Se confirmada, a explosão teria lançado uma onda de raios cósmicos que atravessou o espaço até alcançar a Terra.
Essas partículas podem ter provocado mudanças químicas na atmosfera, alterado o clima global e até afetado a evolução biológica — embora não em escala catastrófica.

Para o físico espacial M. R. Argall, coautor do estudo, a descoberta mostra que “mesmo eventos ocorridos a centenas de anos-luz podem deixar marcas mensuráveis em nosso planeta”.
Ainda assim, os pesquisadores pedem cautela: o pico de berílio-10 foi detectado apenas em um local. Para comprovar a hipótese da supernova, será necessário encontrar isótopos da mesma idade em outros pontos do globo e buscar outros elementos-chave, como o ferro-60, típico de explosões estelares.

A distância segura de uma supernova

Explosões desse tipo liberam energia equivalente à de bilhões de sóis. Se ocorressem muito perto da Terra, poderiam destruir parte da camada de ozônio e desencadear extinções em massa.
Hoje, os astrônomos estimam que a distância mínima segura para uma supernova seja de 50 anos-luz. A menos de 10 anos-luz, a radiação gama seria letal para boa parte da vida no planeta.

Felizmente, o evento de 10 milhões de anos atrás parece ter acontecido fora dessa zona de perigo, forte o suficiente para deixar vestígios no oceano, mas não para causar danos severos.

Vestígios de estrelas no planeta azul

Se confirmada, essa seria mais uma evidência de que a Terra guarda cicatrizes cósmicas — lembranças de antigas explosões estelares que ajudaram a moldar seu destino.
A equipe conclui que a descoberta “mantém viva a hipótese de uma supernova próxima como origem do pico de berílio-10”, reforçando a ideia de que nosso planeta não é apenas um espectador do universo, mas um participante ativo na história das estrelas.

E talvez, a cada grão de sedimento marinho, ainda resida um eco distante do brilho de uma estrela que morreu — e cuja luz viajou milhões de anos até se apagar nas profundezas do tempo.

 

[ Fonte: Wired ]

 

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By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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