NASA Goddard

Explosão de uma supernova no sistema estelar GK Persei. Uma nova ainda mais brilhante deverá irromper de V Sagittae.
Uma gananciosa anã branca relativamente próxima da Terra está a devorar a sua companheira estelar mais próxima a um ritmo nunca antes observado. Segundo um novo estudo, a sua explosão vai originar uma supernova ainda neste século.
Um sistema estelar com um comportamento extremo poderá proporcionar um dos fenómenos astronómicos mais espetaculares das próximas décadas.
A evolução acelerada de V Sagittae, um sistema binário localizado a cerca de 10 mil anos-luz, aponta para a ocorrência iminente de uma explosão termonuclear tão luminosa que, segundo os astrónomos, poderá ser observada a partir da Terra mesmo em plena luz do dia.
Uma análise do sistema, recentemente conduzida por uma equipa internacional de investigadores, revelou que a anã branca que dele faz parte está a absorver gás da sua estrela companheira a um ritmo excecional.
Segundo os autores do estudo, publicado em agosto na Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, o compacto objeto funciona como um reator nuclear sustentado.
“A matéria acumulada sobre a anã branca provavelmente produzirá uma explosão de nova nos próximos anos, durante a qual V Sagittae será visível a olho nu”, explica Pablo Rodríguez-Gil, professor do Instituto de Astrofísica de Canarias e co-autor do estudo, em comunicado da Universidade de Southampton.
O estudo concluiu que o sistema binário, batizado V Sagittae, brilha de forma invulgarmente intensa porque a superdensa anã branca se está a banquetear com a sua gémea maior num verdadeiro festim cósmico.
Os autores do estudo acreditam que as duas estrelas estão presas num autêntico tango extraterrestre, orbitando em torno uma da outra a cada 12,3 horas, e aproximando-se gradualmente.
Segundo os investigadores, esta dança poderá culminar numa explosão colossal, tão brilhante que será visível a olho nu a partir da Terra, apesar de o sistema estar a cerca de 10 000 anos-luz de distância.
As conclusões são de uma equipa internacional de astrónomos que inclui o professor , liderada por Pasi Hakala, da University of Turku, na Finlândia, com a colaboração de Pablo Rodríguez Gil, do espanhol Instituto de Astrofísica de Canarias e da Universidad de La Laguna.
Segundo Phil Charles, investigador da Universidade de Southampton e co-autor do estudo, os resultados vêm resolver um mistério em torno deste par de estrelas que intriga os astrónomos há um século.
“V Sagittae não é um sistema estelar qualquer – é o mais brilhante do seu género e tem confundido os especialistas desde que foi descoberto, em 1902”, sublinha o astrónomo britânico.
“O nosso estudo mostra que este brilho extremo se deve ao facto de a anã branca estar a sugar a vida da sua estrela companheira, usando a matéria que acumula por acreção para a transformar num inferno incandescente. É um processo tão intenso que está a desencadear reacções termonucleares à superfície da anã branca, fazendo-a brilhar como um autêntico farol no céu nocturno”, acrescenta.
Os investigadores, que captaram este espectáculo de destruição cósmica com o poderoso Very Large Telescope do Observatório Europeu do Sul, no Chile, fizeram ainda outra descoberta: detectaram um anel de gás, semelhante a um halo gigante, a envolver ambas as estrelas, consequência das enormes quantidades de energia geradas pela faminta anã branca.
Este anel inesperado, formado a partir dos detritos deste banquete caótico, dá-nos uma pista que pode alterar o que sabemos sobre a forma como as estrelas vivem e morrem, explica Pasi Hakala, investigador da Universidade de Turku, na Finlândia, e autor principal do estudo.
“A anã branca não consegue consumir toda a massa que lhe está a ser transferida da sua gémea quente, pelo que se forma este brilhante anel cósmico. A velocidade a que este sistema condenado oscila descontroladamente, provavelmente devido à sua luminosidade extrema, é um sinal frenético do seu fim violento e iminente”, conclui o investigador.
