O Seminário “Operação Taquari 2”, que acontece entre os dias 8 e 10 de abril no auditório do Ministério Público do RS, reúne especialistas, representantes de instituições e de comunidades locais para tratar das lições aprendidas na Operação Taquari 2 durante o desastre climático que atingiu o Rio Grande do Sul em maio de 2024.

Laércio Massaru Namikawa, pesquisador e tecnologista sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), tratou das principais pesquisas feitas em resposta ao desastre pelo Instituto, que foi convocado para mapear áreas afetadas com o propósito de adquirir dados em imagens e contribuir para o pagamento do Auxílio Reconstrução, apoio financeiro pago pelo Governo Federal às famílias desalojadas ou desabrigadas no Estado.

O trabalho foi realizado durante o mês de maio de 2024 nas regiões mais afetadas, e seguiu até outubro com o mapeamento das demais áreas levantadas em campo pela Defesa Civil. Laércio lembrou que, no pico do evento extremo, o número de desabrigados foi muito grande comparado com o de habitantes do RS. “Um evento dessa magnitude, pela área geográfica, é um evento que não tem precedentes no mundo. Foi uma área realmente afetada, pode se considerar uma das maiores catástrofes, não só do Brasil, mas também do mundo”, reconhece.

O INPE, que disponibiliza o serviço que fornece dados de previsões numéricas do tempo, solicitou ajuda da meteorologia para auxiliar no levantamento de dados de precipitação. Para isso, utilizaram o sistema de dados criados pelo Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), chamado de MERGE, que trouxe dados otimizados de precipitação. “Foi uma quantidade de chuva absurdamente alta. Não é trivial e não é qualquer sistema que conseguiria manejar”, diz o pesquisador.

Em sua apresentação, Laércio apresentou imagens de antes e depois da inundação, feitos pelo Amazônia 1, satélite brasileiro fabricado no INPE, que evidenciavam a quantidade de sedimentos na água, que estava turva e avermelhada. Foi, também, utilizado um importante satélite, o CBERS-4A, desenvolvido também pelo INPE, com o objetivo de fazer mapeamento das áreas e interpretação visual dos dados.

Em uma imagem do dia 3 de abril de 2024, antes da inundação em Lajeado e Estrela, e em outra imagem, em 30 de maio, foi captada toda a mancha de lodo e do solo erodido ao longo dos dias. Outro registro de 9 maio, em Porto Alegre, permitiu visualizar todas as áreas afetadas, inclusive o estádio Beira-Rio com toda a água da inundação. “É difícil de imaginar a capacidade de recuperação de todos esses locais”, analisou Laércio, que reconheceu a rapidez de recuperação de um território que ficou devastado por tantos dias.

O INPE utilizou, também, da Carta Internacional “Espaço e Grandes Desastres” (International Charter Space and Major Disasters – Disasters Charter), um consórcio de 17 agências e instituições espaciais que provêm imagens de satélite no auxílio a respostas aos grandes desastres. O INPE é membro desde novembro de 2012, com a ESA (European Space Agency), JAXA (Japan Aerospace Exploration Agency), CSA (Canadian Space Agency), CNSA (China National Space Administration), entre outras agências ao redor do mundo, que se colocaram à disposição de resposta de desastre com um conjunto de cerca de 300 satélites. Com esse auxílio, foi possível captar imagens de municípios como Encantado e Roca Sales, na extração de um dos satélites da Carta Internacional.

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As equipes também recorreram a imagens de radar que puderam ultrapassar as diversas nuvens que ocupavam a região e ter imagens mais nítidas do desastre, com apoio, inclusive, da Universidade Federal de Santa Maria, que tratou as imagens fornecidas.

O instituto auxiliou no apoio da instalação das bombas da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, a Sabesp, maior empresa de saneamento do Brasil, que permitiu encontrar locais com água acumulada e visualizar onde deveriam ser solicitadas bombas.

A coordenação de mapeamento de áreas inundadas também permitiu a visualização de áreas e pessoas atingidas que poderiam ser beneficiadas pelo Auxílio Reconstrução. Ao longo dos meses, o estudo foi ampliado para buscar quantos municípios ainda estavam fora do mapeamento de áreas afetadas, em mapeamento feito pelo Centro Nacional de Monitoramento de Alertas e Desastres (Cemaden), utilizando modelos hidrológicos.


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By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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