A descoberta é resultado de anos de monitoramento na região afetada pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), ocorrido em 2015.
Uma nova espécie de inseto aquático, denominada Smicridea (Rhyacophylax) exu, foi descoberta por um grupo de pesquisadores da UFV, na Bacia do Rio Doce. A novidade é descrita em artigo publicado na revista Biologia, do grupo Springer Nature, deste mês. O trabalho tem autoria de Ana Dária Leite Viana, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ecologia, e coautoria do doutorando Pedro Bonfá Neto e do professor Frederico Falcão Salles, ambos do Programa de Pós-Graduação em Entomologia, além dos estudantes de iniciação científica da UFV Ana Izidoro e João Curi e, ainda, do pesquisador Gleison Desidério, da Universidade Estadual Paulista.
A descoberta é resultado de anos de monitoramento na região afetada pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), ocorrido em 2015 — o maior desastre socioambiental da história do Brasil. Foram percorridas 40 localidades em rios e afluentes da Bacia do Rio Doce, tanto na estação seca quanto na chuvosa.
A nova espécie, Smicridea exu, é um pequeno inseto aquático, semelhante a uma “micromariposa” quando adulto. Ela mede cerca de 5 mm e tem asas marrons com faixas claras. O que a diferencia das demais do gênero é, principalmente, a morfologia das estruturas reprodutivas dos machos, que funcionam como uma “impressão digital” para taxonomistas. Em S. exu, alguns desses detalhes são únicos, como o formato e conjunto de espinhos característicos.
Contribuição ambiental
Além de ampliar o conhecimento científico, a nova espécie cumpre um papel crucial no monitoramento ambiental. Como explica a doutoranda Ana Dária Viana, as larvas de Smicridea vivem fixadas em pedras nos rios, onde constroem pequenas redes de seda para capturar partículas orgânicas e outros invertebrados. Com isso, elas participam da ciclagem de nutrientes, da filtragem da água e da cadeia alimentar de riachos e rios.
Muitas dessas espécies são sensíveis à poluição e à alteração do habitat, de modo que sua presença, ausência ou queda de abundância pode indicar mudanças ambientais, inclusive processos de degradação.
A pesquisa sobre a fauna de insetos aquáticos pode ainda ser amplamente utilizada como ferramenta de biomonitoramento. “Registrar uma nova espécie e atualizar a distribuição de outras ajuda a construir uma linha de base confiável, essencial para o acompanhamento do estado dos rios ao longo dos anos. Ao identificar quais espécies ocorrem, onde estão e em que quantidade, especialmente após um desastre da magnitude da barragem do Fundão, conseguimos compreender melhor os efeitos do impacto sobre a fauna, os sinais de recuperação e quais trechos do rio demandam maior atenção”, ressalta a doutoranda.
Ana Dária e Pedro Bonfá durante instalação da armadilha para captura dos insetos
A descoberta também amplia o conhecimento sobre a diversidade do gênero Trichoptera no Brasil e na Mata Atlântica, um grupo ainda pouco estudado fora de áreas de conservação. Além da novidade descrita, a pesquisa do grupo da UFV identificou 12 espécies desse gênero na bacia do Rio Doce, incluindo seis novos registros estaduais: três em Minas Gerais e outros três no Espírito Santo. Esses achados são importantes para a compreensão da biodiversidade da região, contribuindo para o monitoramento ambiental uma década após o desastre de Fundão.
Vale ressaltar que o material-tipo da Smicridea exu está depositado no Museu de Entomologia da UFV para ser consultado apenas por pesquisadores ou em visitas técnicas agendadas. O local conta ainda com exposição aberta ao público em que outras espécies da ordem Trichoptera e de outras ordens de insetos podem ser observadas.

Ana Dária e Pedro Bonfá durante instalação da armadilha para captura dos insetos