Se a cúpula do governo brasileiro ainda acha que o presidente Donald Trump está brincando e pode ser ridicularizado pelas bravatas deseducadas do presidente Lula, é bom ficar ligeiro porque isso não vai resolver o problema. Cada vez mais o empresariado, os empregos e a economia do país correm seríssimos riscos. Ele não está brincando. As consequências desses desafios à mais poderosa economia do mundo podem se transformar de bestial à besta em um piscar de olhos. Os falsos e irresponsáveis aplausos das plateias por onde Lula bravateia contra o presidente americano estão com a tendência de se transformarem em choros sem controle. Se o empresariado brasileiro não tomar a frente e exigir que o governo mude o seu posicionamento e pare de usar a soberania como escudo, o desastre será certo. E a responsabilidade não será de ninguém mais do que do próprio governo. Não será o boné “Brasil é dos brasileiros” que vai nos salvar.
Esta manhã (27), Trump ordenou que as tarifas aplicadas às importações de produtos da Índia, que desde o início do mês eram de 25%, dobraram nesta quarta-feira para 50%. A decisão é uma forma de punir Nova Délhi por comprar petróleo da Rússia. Avisar, ele avisou. A Índia é um dos principais importadores de petróleo russo, atrás apenas da China. Compra muito e mais barato, refina muito e vende a preço de mercado internacional. Trump diz que a Índia acaba financiando a Rússia na guerra contra a Ucrânia. Se o Brasil não abrir os olhos, vai pelo mesmo caminho. A nossa dependência de óleo diesel, fertilizantes e radiofármacos usados na medicina nuclear para diagnóstico e tratamento de câncer ainda é muito alta.
O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, prometeu “reduzir a carga tributária sobre as pessoas comuns” no discurso anual por ocasião do Dia da Independência. Seu governo criticou a medida, que chamou de “injusta, injustificável e irracional”. Os Estados Unidos foram o principal destino das exportações indianas no ano passado, com envios de US$ 87,3 bilhões (R$ 474 bilhões). A associação de exportadores do país pediu uma intervenção do governo para reduzir o temor de perda de empregos. Com o aumento da tarifa, as relações entre Estados Unidos e Índia ficam ainda mais tensas.

O resultado do refino do petróleo russo e a própria venda in natura rendeu bilhões de dólares de lucro para Índia
Neste pacote haverá algumas isenções para setores que poderiam ser afetados por tarifas separadas, como produtos farmacêuticos e semicondutores. Embora Trump tenha implementado novas tarifas tanto contra aliados como contra países rivais desde que voltou à Casa Branca em janeiro, a taxa de 50% é uma das mais elevadas aplicadas contra parceiros comerciais dos Estados Unidos. Ao lado da Índia, só o Brasil, que ainda pode ter uma punição semelhante, caso continue comprando da Rússia, passando para 100%, com reflexos também para o Mercado Comum Europeu, que passaria a cobrar 50% nas exportações brasileiras para os 32 países que fazem parte da OTAN.
Os exportadores indianos de produtos têxteis, frutos do mar e joalheria relataram o cancelamento de pedidos para os Estados Unidos, com o espaço aproveitado por países rivais como Bangladesh e Vietnã. O Ministério das Relações Exteriores explicou que a Índia começou a importar petróleo da Rússia em um cenário em que seus fornecedores tradicionais desviaram sua produção para a Europa devido à invasão russa da Ucrânia. A pasta destacou que Washington incentivou as importações naquele momento para reforçar a estabilidade do mercado energético mundial. A Rússia representou quase 36% do total das importações de petróleo bruto da Índia em 2024. A compra de petróleo russo representou para Nova Délhi uma economia de bilhões de dólares em custos de importação.