O presidente dos EUA, Donald Trump, voltou a atacar líderes e países europeus, ao classificar a Europa como um grupo de nações “decadentes”, lideradas por pessoas “fracas”. A declaração foi feita durante uma entrevista concedida ao site americano Politico, em um momento em que o republicano criticava a política migratória do bloco, que chamou de “desastre” — em uma escalada ainda maior da pressão sobre o tema, que Washington atacou diretamente nos últimos dias.
— Eu acho que eles são fracos, mas querem ser tão politicamente corretos — disse Trump durante a entrevista. — Eu acredito que eles não sabem o que estão fazendo. A Europa não sabe o que está fazendo.
Embora a relação com a Europa tenha se abalado desde o retorno de Trump à Casa Branca, o avanço sobre a pauta da migração no bloco se tornou central desde a última sexta-feira, com a divulgação da nova estratégia de segurança nacional americana. Além de eleger o “fim da era das migrações” como prioridade principal, Washington mencionou a política migratória como um dos fatores que colocava o continente diante de um risco de “extinção civilizacional”.
Na entrevista, o americano afirmou que os países europeus se tornariam “muito mais fracos” em razão do fluxo migratório, afirmando que “as pessoas que chegam têm uma ideologia totalmente diferente” dos países do bloco europeu.
— Eles [migrantes] vêm de todos os lugares do mundo, não apenas do Oriente Médio. Vêm do Congo. E pior ainda, vêm das prisões do Congo e de muitos outros países — afirmou Trump, acrescentando que os líderes europeus “não querem enviá-los de volta” por preocupações com o politicamente correto.
Londres a Paris, Suécia e Hungria
A maior parte dos comentários do presidente americano não foram dirigidos a um país ou um líder em particular. Em um momento, Trump disse não ter inimigos, ressaltando, porém, que conhecia os “maus líderes”, os “inteligentes” e os “estúpidos” — destacando haver “alguns realmente estúpidos”.
Um alvo direto dos ataques do republicano foi o prefeito de Londres, o trabalhista Sadiq Khan, a quem chamou de “horrível, repugnante e cruel”. Ambos já trocaram ofensas públicas, desde que o presidente americano criticou o europeu durante discurso na Assembleia Geral da ONU. Khan, por sua vez, disse que Trump é “racista, sexista, misógino e islamofóbico”.
— O que eles estão fazendo com a imigração é um desastre. Eu adorava Paris. É um lugar muito diferente do que era. Se você olhar Londres, há um prefeito chamado Khan. É um prefeito horrível, cruel, repugnante — disse o presidente, acrescentando posteriormente: — Eu amo Londres. E odeio ver isso acontecer. Minhas raízes estão na Europa, como vocês sabem.
Quanto aos países, Trump citou nominalmente Suécia, Hungria e Polônia, para se referir às políticas no continente. Ele citou Estocolmo como um exemplo do que apontou como decadência, afirmando que a imigração teria repercutido nos índices de segurança do país — argumento que utilizou no contexto interno para forçar deportações.
— A Suécia era conhecida como o país mais seguro da Europa, um dos países mais seguros do mundo — avaliou. — Agora é conhecida como um país muito inseguro. (…) É incrível. É um país totalmente diferente.
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Polônia e Hungria, por outro lado, foram apontados pelo americano como exemplos a serem seguidos no assunto imigração. Ele afirmou ter apoiado diretamente a eleição do premier húngaro, Viktor Orbán, e sugeriu que poderia apoiar novas lideranças que coadunem com sua visão nacionalista e de controle de fronteiras.
— Apoiei pessoas, mas apoiei pessoas de quem muitos europeus não gostam. Apoiei Viktor Orbán — disse; — [O que Orbán] realmente acertou foi na imigração, porque ele não permite a entrada de ninguém em seu país, e a Polônia também fez um ótimo trabalho nesse aspecto, mas a maioria das nações europeias está em decadência.
O cenário político em alguns dos principais países da Europa é de extrema pressão com o crescimento da popularidade de siglas de extrema direita. Mesmo onde tais siglas não chegaram ao poder, tem se observado um avanço de pautas defendidas por esses movimentos políticos, incluindo restrições à imigração.
Em uma guinada em direção a uma política mais restritiva, a União Europeia aprovou na segunda-feira o endurecimento de normas migratórias, permitindo a criação de “centros de retorno” fora do bloco. As medidas foram inicialmente apresentadas pela própria Comissão Europeia, o Executivo do bloco.
A medida foi aprovada inicialmente pelos ministros do Interior dos 27 Estados-membros da UE, mas para entrar em vigor ainda é necessária a ratificação pelo Parlamento Europeu. Além da abertura de centros fora das fronteiras da UE, para onde seriam enviados imigrantes com pedidos de asilo rejeitados, as propostas incluem sanções mais severas para quem se recusar a deixar o território europeu e a possibilidade de enviar imigrantes para países que não sejam os seus de origem, mas que a Europa considere “seguros”.
O documento estratégico divulgado por Washington na sexta-feira afirma que o país vai apoiar partidos políticos na Europa que lutam contra a imigração e promovem o nacionalismo — o que descreve vários partidos de extrema direita, como o Reform UK, no Reino Unido, e a Alternativa para Alemanha (AfD). (Com AFP e NYT)
