Uma nova investigação sobre o desastre de Hillsborough, ocorrido em 1989, concluiu que 12 ex-policiais — a maioria deles de alto escalão — deveriam ter respondido a processos por má conduta grave. O relatório, divulgado nesta terça-feira, 2, pelo Escritório Independente de Conduta Policial (IOPC), reforça críticas antigas às autoridades e reacende o debate sobre responsabilidade institucional.
O tumulto aconteceu durante a semifinal da FA Cup entre Liverpool e Nottingham Forest, no estádio de Hillsborough, em Sheffield. Em uma tarde ensolarada de primavera, 97 torcedores do Liverpool — muitos deles jovens — foram esmagados em um setor cercado e superlotado. O episódio se tornou um dos piores desastres em estádios já registrados no mundo.
Segundo o UOL, logo após a tragédia, a polícia culpou torcedores supostamente bêbados pelo caos. Essa versão, porém, sempre foi rejeitada por sobreviventes, familiares das vítimas e pela comunidade de Liverpool. Durante décadas, eles lutaram por justiça e transparência, insistindo que a tragédia não havia sido causada pelo comportamento dos fãs.
Inquéritos posteriores e uma investigação independente confirmaram o que os torcedores diziam desde o início. As vítimas foram mortas ilegalmente, e a polícia foi considerada responsável pelo desastre. Apesar disso, nenhum policial foi condenado em processos criminais. Em 2019, David Duckenfield, comandante responsável pela operação no estádio, foi absolvido da acusação de homicídio culposo.
Conclusões
Agora, o relatório do IOPC, que reuniu 352 queixas ao longo de 13 anos, traz novas revelações. O documento afirma que 327 declarações de policiais foram alteradas após o incidente, numa tentativa de desviar a culpa. Além disso, conclui que a revisão conduzida pela polícia de West Midlands logo após a tragédia falhou ao favorecer colegas envolvidos.
Segundo o IOPC, se ainda estivessem em serviço, 12 policiais — incluindo o então chefe de polícia de South Yorkshire, Peter Wright — teriam que responder por má conduta grave. O relatório também aponta que 92 queixas contra ações policiais foram consideradas procedentes ou exigiriam explicações formais.
A diretora-geral adjunta do IOPC, Kathie Cashell, afirmou que as vítimas e suas famílias foram repetidamente decepcionadas pelas autoridades ao longo de mais de três décadas. “O que eles tiveram que suportar por mais de 36 anos é uma fonte de vergonha nacional”, declarou.
*Sob supervisão de Fabio Previdelli
