No Córrego Sussuapara, em Bela Vista de Goiás, peixes começaram a entregar um segredo preocupante. Análises do Projeto AquaCerrado revelaram a presença de acrilamida, uma substância química associada a danos ao DNA e risco de câncer em animais.
Curiosamente, a água do córrego não apresentou níveis expressivos da toxina, sugerindo que o problema se esconde dentro dos próprios organismos aquáticos, acumulado de maneira silenciosa ao longo do tempo.
Acrilamida
Mais conhecida por surgir em alimentos assados ou fritos, a acrilamida também é usada em indústrias: na produção de colas, cosméticos, papel e, especialmente, no tratamento de água e efluentes.
Essa variedade torna difícil rastrear sua origem exata no meio ambiente. Nos peixes estudados, os níveis detectados chegaram a 4,22 mg/L, valor chocantemente superior ao tolerável, multiplicando por milhares o limite considerado seguro.
Indícios de fontes múltiplas de contaminação
A proximidade da ETE da Saneago levanta suspeitas, mas a investigação indica que não há uma única origem. A empresa afirma não utilizar a substância, e pontos anteriores à estação também apresentaram contaminação.
O quadro é de poluição difusa, reforçando a ideia de que o ecossistema local sofre com impactos acumulativos e múltiplos agentes químicos.
O alerta da ciência e do governo
Pesquisadores da UFG, UFJ e instituições parceiras do AquaCerrado enfatizam a necessidade de estudos mais aprofundados. A Semad, por sua vez, planeja contratar um novo levantamento para entender a extensão do problema.
A fiscalização já constatou irregularidades no lançamento de efluentes, mas agora a preocupação se amplia para químicos invisíveis, capazes de alterar o DNA de quem consome os peixes contaminados.
Consequências invisíveis e urgência ambiental
O caso da acrilamida mostra como poluentes podem agir silenciosamente, acumulando-se nos organismos sem deixar vestígios imediatos na água. Essa descoberta levanta questões sobre a segurança alimentar, a saúde pública e a responsabilidade de indústrias e estações de tratamento.
O rio, que deveria ser fonte de vida, revela-se um espelho das práticas humanas e da urgência em proteger os ecossistemas aquáticos.