Sob críticas e impasse de segurança, projeto de gás em Moçambique é suspenso pelo Reino UnidoSob críticas e impasse de segurança, projeto de gás em Moçambique é suspenso pelo Reino Unido

O governo do Reino Unido anunciou nesta segunda-feira (1º) que vai retirar o seu apoio financeiro ao projeto de gás natural liquefeito (GNL) da TotalEnergies em Moçambique. A decisão envolve a retenção de até R$ 6,1 bilhões em financiamento para a obra, localizada na província de Cabo Delgado, no nordeste do país.

O secretário de Comércio e Negócios britânico, Peter Kyle, justificou a medida em um comunicado. “Embora essas decisões nunca sejam simples, o governo acredita que o financiamento do Reino Unido a este projeto não avançará os interesses do nosso país”, disse. A agência governamental UK Export Finance (UKEF) foi responsável pela decisão de interromper o financiamento.

A empresa francesa TotalEnergies, que detém 26,5% do empreendimento, anunciou em outubro a intenção de retomar os trabalhos, suspensos desde 2021 após um ataque jihadista que matou cerca de 800 pessoas. Conforme reportagem da agência francesa AFP, a empresa declarou fim do estado de força maior e solícita ao governo moçambicano o pagamento de R$ 22,2 bilhões em custos extras relacionados ao atraso.

Impacto e reações

O projeto, de R$ 106 bilhões, faz parte de um conjunto de iniciativas de gás na região que também envolve a italiana ENI e a americana ExxonMobil. Um relatório de auditoria da Deloitte de 2024 apontou que esses projetos poderiam elevar Moçambique ao posto de um dos dez maiores produtores mundiais de gás natural até 2040.

A decisão britânica foi celebrada por organizações ambientais e de direitos humanos. O Amigos da Terra Moçambique declarou: “Esperamos que outros financiadores reflitam sobre a realidade deste projeto e coloquem os direitos das pessoas acima dos lucros”.

Grupos da sociedade civil moçambicana e internacional já investiram a TotalEnergies de manter o país “refém” com a exigência de condições “ultrafavoráveis” para retomar o projeto.

O governo britânico afirmou que “mantém o compromisso com a nossa parceria nacional com Moçambique e com a construção de relações respeitosas de longo prazo com os países africanos para transferir o crescimento sustentável, enfrentar a crise climática e abordar a insegurança”.

Contexto social e ambiental

O projeto proposto críticas de que traria poucos benefícios à população local. Dados do Banco Mundial indicam que mais de 80% dos moçambicanos vivem abaixo da linha da pobreza de R$ 16 por dia em 2022. Organizações ambientais classificam as iniciativas de gás na região como “bombas climáticas”.

A TotalEnergies não comentou oficialmente a decisão britânica. A reportagem da AFP solicitou uma ocorrência ao governo de Moçambique, mas não obteve resposta até a publicação.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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