O desastre do rompimento da barragem de rejeitos da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), que vitimou 272 pessoas, completará sete anos no final de janeiro e ainda pode ser sentido pela população, que sofre de efeitos duradouros.
Um levantamento realizado pelo Projeto Brumadinho, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mostra que 70% dos domicílios do município registram algum tipo de adoecimento físico ou mental. Os dados indicam que as consequências sobre a saúde permanecem estruturais e contínuas.
Entre os sintomas mais frequentes estão estresse, insônia, ansiedade, hipertensão e episódios depressivos. Mais da metade dos adultos (52%) buscou tratamento psicológico ou psiquiátrico desde a tragédia.
Houve, ainda, o agravamento de doenças crônicas e maior necessidade de acompanhamento especializado. O cenário é agravado por dificuldades de acesso: 76% das famílias relatam problemas para realizar consultas, exames e tratamentos, devido à pressão sobre a rede pública e às mudanças na mobilidade urbana.
Contaminação
A desconfiança em relação à segurança dos alimentos é generalizada: 77% dos domicílios vivem com medo constante de contaminação. “Recebemos a pesquisa com muita tristeza, pois ela confirma que a população de Brumadinho continua sofrendo. Temos relatos de familiares que desenvolveram diabetes, lúpus, câncer, dermatites crônicas e problemas de coração, além do crescimento do uso de ansiolíticos que também é visível”, afirma Nayara Porto, presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos (Avabrum).
O estudo também identifica a permanência de metais pesados, como manganês, arsênio, chumbo, mercúrio e cádmio, em diversas matrizes ambientais. A água segue como principal fator de risco: 85% das casas relatam problemas no consumo e 75% afirmam que a qualidade e o fornecimento estão comprometidos.
A chamada “lama invisível”, termo que representa a desconfiança sobre produtos originados no município, ainda faz parte do dia a dia dos moradores.
Para Josiane Melo, diretora da Avabrum, a instabilidade permanece. “É inadmissível conviver com insegurança hídrica, adoecimento e medo tantos anos depois [do desastre]. O estudo só comprova que a vida não voltou ao lugar”, diz.
Consequências
O impacto também é significativo na economia local. Conforme o professor Ricardo Machado Ruiz, um dos autores do estudo, Brumadinho poderia perder de R$ 7 bilhões a R$ 9 bilhões em Produto Interno Bruto (PIB) no longo prazo sem o acordo de reparação firmado em 2021. Com os investimentos pactuados, a perda estimada diminui para algo entre R$ 4,2 bilhões e R$ 5,4 bilhões, ainda assim, expressiva.
Ruiz destaca que a mineração era eixo central da economia municipal. Após o rompimento, a estrutura produtiva passou a depender das ações de reparação, que absorveram trabalhadores e mitigaram impactos imediatos, mas deixaram pequenos negócios e atividades informais mais fragilizados. Segundo ele, o futuro econômico da região dependerá da capacidade de diversificar suas fontes de renda.
“Se nada for feito para substituir aquela atividade mineradora, ainda restará essa perda bilionária dentro do município”, conclui o pesquisador.
LEIA TAMBÉM:
https://jornalggn.com.br/cidadania/policia-localiza-vitima-tragedia-brumadinho/
