São Paulo mergulhou de novo no caos, com ventos de até 98 quilômetros por hora que afetaram fortemente a imensa escala macrometropolitana, incluindo residências, comércio, serviços e ainda a logística do transporte, urbano e aeroviário. Os prejuízos, se calculados, serão altíssimos.

Quando um vendaval se abate sobre uma metrópole como São Paulo, estão em cena múltiplas realidades sistêmicas: a atmosfera com interação das áreas mais quentes em busca de equilíbrio energético; os sistemas de distribuição de energia por meio de fiação em ambiente entremeado de árvores que cortam cânions artificiais construídos pela multiplicidade de prédios; e a interrupção de um sistema aeroviário intenso que conecta o Brasil. Tudo isso dentro de novos parâmetros climáticos.

Vivemos tempos ainda não testados pela Humanidade, dentro da imprevisibilidade climática de que a série histórica mapeada pela sociedade humana não dá conta. A infraestrutura se equilibra precariamente sobre uma lógica de negócios mais lucrativos possíveis, como sempre foram, mesmo agora que todos já sabemos sobre a necessidade de colocar na agenda e na prática medidas de sustentabilidade para enfrentar a vulnerabilidade do clima.

A incerteza se tornou radical e se soma à realidade de um aquecimento climático maior que o esperado, com impactos mais intensos do que se previa. A lição energética de São Paulo não é nova e repete cenários vividos em anos recentes. O que chama a atenção é não termos aprendido a lição e os episódios anteriores terem sido tratados apenas como excepcionalidade. Não são. E piorarão.

Como lidar com o desconhecido, dentro de uma realidade de insuficiência contumaz com relação à infraestrutura, do esbulho dos serviços essenciais à sociedade por gestões deficientes, como as áreas hídrica e de energia, que obedecem à lógica de moldes já construídos?

Como superar o crescente déficit hídrico pela precarização dos mananciais, dos ecossistemas produtores, ou a realidade da energia suprida por fios expostos aos elementos, e não com instalações sob o solo, que melhoram a segurança energética, a estética das cidades, reduzindo poluição visual, possibilidades de vandalismo e custos de manutenção?

Também não é algo novo para o tecido planetário entre milhares de eventos semelhantes que se repetem ano após ano. A tempestade Arwen, do Reino Unido, em novembro de 2021, foi descrita como “uma das tempestades de inverno mais poderosas e devastadoras da última década”. Atingiu a Escócia e a Inglaterra em novembro daquele ano com rajadas de vento superiores a 170 quilômetros por hora. Árvores caídas causaram danos à infraestrutura de energia e mais de 1 milhão de residências ficaram sem energia. Algumas ainda estavam desconectadas mais de uma semana depois.

Os responsáveis recebem a fatura dos impactos. Em São Paulo, a empresa Enel foi multada em 2024 em R$ 165,8 milhões pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), aumento de 920% em relação ao patamar verificado antes da atual crise de apagões. O comércio e serviços na região registraram perdas superiores a R$ 1,54 bilhão, segundo a FecomercioSP.

O mapeamento e a adaptação à vulnerabilidade climática da Região Metropolitana de São Paulo e demais cidades brasileiras é urgente, sob a pena de repetição do caos, ano após ano — e em escala progressiva, como demonstra a ascendência do desequilíbrio climático e seus impactos.

*Carlos Bocuhy é presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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