A cidade do Rio de Janeiro registrou em dezembro o menor índice de contaminação por HIV desde 2014, de acordo com o Boletim Epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde, divulgado nesta semana. Essa nova realidade traz esperança e reforça a importância das políticas de saúde pública no combate ao vírus.
Dados alarmantes e esperanças renovadas
O levantamento mostrou que menos de 1% das pessoas testadas apresentaram diagnóstico positivo para o HIV, um índice muito abaixo do que se registrava nos últimos anos. Este resultado é visto como um marco na luta contra o vírus, especialmente considerando que o total de testes positivos também foi o mais baixo da última década.
A Secretaria de Saúde do Rio atribui esta redução ao amplo acesso ao diagnóstico precoce, ao fortalecimento das políticas de prevenção e ao tratamento gratuito oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O HIV, que compromete o sistema imunológico e pode evoluir para AIDS sem tratamento, agora possui opções acessíveis e eficazes, que permitem que aquelas pessoas que vivem com o vírus tenham uma vida saudável e reduzem significativamente o risco de transmissão.
Queda nos casos de transmissão vertical
Outro dado importante apresentado no boletim foi a queda dos casos de transmissão vertical do HIV — quando o vírus é transmitido da mãe para o bebê. Em 2014, o município registrou 23 casos desse tipo, enquanto em 2023 esse número caiu para apenas dois, um avanço significativo para a saúde materno-infantil.
“O dado mais importante é que o HIV tem tratamento. Quarenta e cinco mil pessoas fazem o tratamento na rede municipal de saúde todos os meses, e 93% dos pacientes que tomam o antirretroviral já têm carga viral indetectável, ou seja, eles não transmitem a doença”, afirmou Daniel Soranz, secretário da Saúde do município.
A trajetória do HIV no Rio de Janeiro
Os anos 1990 foram marcados pelo pico de mortes devido à AIDS no Rio, numa época em que o acesso ao tratamento era limitado e os diagnósticos frequentemente tardios. O cantor e compositor Cazuza tornou-se um dos principais símbolos da luta contra o HIV no Brasil ao se expor publicamente sobre a doença, contribuindo para a conscientização e desestigmatização do assunto.
Atualmente, o Hospital São Lucas, um local que já foi um centro de tratamento de Cazuza, abriga um monumento em homenagem ao artista. “Esse é um monumento à esperança”, disse Chico Regueira, responsável pela iniciativa, lembrando do legado do cantor que, ao compor “Codinome Beija-Flor” enquanto se tratava, desafiou os estigmas da época.
O HIV como condição crônica
Com o avanço do tratamento e das estratégias de prevenção, especialistas afirmam que o HIV deixou de ser uma sentença de morte e passou a ser considerado uma condição crônica. “Conseguimos tirar aquele estigma da década de 80. Atualmente, os pacientes conseguem seguir corretamente o tratamento e viver com qualidade de vida”, comentou Vanessa Queiroz, diretora-geral do Hospital São Lucas.
Tratamento e prevenção acessíveis pelo SUS
O SUS oferece tratamento gratuito para o HIV, incluindo testes rápidos, autotestes e orientação especializada. No Complexo Rocha Maia, em Botafogo, há uma sala de atendimento que funciona todos os dias, ampliando o acesso da população aos serviços de saúde. O enfermeiro Marcos Araújo destaca que “qualquer pessoa pode procurar o serviço. Se houve uma situação de risco, como relação sem preservativo, é possível iniciar a profilaxia pós-exposição (PEP) em até 72 horas”.
Com campanhas de conscientização, a adesão ao teste e o uso de preservativos, o Rio de Janeiro mostra um modelo de abordagem eficaz na luta contra o HIV. É um claro exemplo de que, através da educação e do investimento em saúde pública, é possível mudar realidades e salvar vidas.
