O Rio Matanza-Riachuelo, que percorre 64 quilômetros desde a Província de Buenos Aires até sua foz no Rio da Prata, foi durante décadas sinônimo de extrema contaminação.
Águas servidas, resíduos industriais e lixo domiciliar transformaram seu curso em um símbolo do abandono ambiental.
Uma demanda que marcou um antes e um depois
A decisão da Suprema Corte impulsionou o compromisso estatal para recuperar a bacia.
Em 2004, a ação judicial iniciada por Beatriz Mendoza contra o Estado nacional, a Província e a Cidade Autônoma de Buenos Aires resultou em uma decisão histórica da Corte Suprema de Justiça, que ordenou a recomposição ambiental da área.
Desde então, organismos como Acumar começaram a coordenar ações de limpeza e recuperação.
Limpeza do espelho d’água: melhorias visíveis e sustentadas
A coleta de resíduos flutuantes e o controle de odores mostram avanços em setores emblemáticos.
Embora o saneamento profundo exija investimento e maquinaria especializada, a limpeza superficial já gera impactos positivos.
Em áreas como Vuelta de Rocha, no bairro de La Boca, observa-se menos lixo flutuante e uma notável redução do odor nauseabundo que antes caracterizava a costa.
Tecnologia para uma limpeza mais eficiente
Para reforçar as tarefas de saneamento, o governo portenho apresentou um catamarã moderno que pode coletar até 2000 quilos de resíduos, em comparação com os 500 quilos coletados pelos modelos anteriores.
O ministro Ignacio Baistrocchi destacou que o novo equipamento otimiza o uso de combustível e opera em conjunto com as embarcações existentes, melhorando a eficiência operacional.
Classificação e destinação dos resíduos
Os resíduos retirados do rio são classificados e destinados a centros de reciclagem ou ao Ceamse, de acordo com sua composição.
Desde o início do processo de saneamento, mais de 5000 toneladas de lixo foram removidas, com uma média mensal entre 60 e 120 toneladas, dependendo das condições climáticas e operacionais.
Recuperação da fauna e do espaço público
A melhoria ambiental permitiu o retorno de espécies e a reapropriação cidadã da margem.
Segundo Baistrocchi, no trecho do Riachuelo que margeia La Boca, já se observa fauna recuperada, como sáveis e frangos d’água pequenos.
Além disso, as margens do rio foram desobstruídas e espaços públicos foram disponibilizados para uso dos moradores, em articulação com Acumar.

Educação ambiental e desafios interjurisdicionais
Um dos principais desafios atuais é que as pessoas continuam a jogar lixo no rio.
Embora a Cidade realize campanhas de educação ambiental e disponha de contentores diferenciados, não pode intervir nas margens que pertencem à Província, onde não há um plano de recuperação ativo.
“O problema não é o que é retirado, mas o que ainda é jogado”, alertou o ministro.
Navegabilidade recuperada: um marco na transformação do Riachuelo
Um dos recentes sucessos foi a recuperação da navegabilidade, o que permite acessar o rio em áreas onde antes era impossível.
Esse avanço reforça a ideia de que o saneamento deve continuar, com uma abordagem integral que combine tecnologia, gestão interjurisdicional e participação cidadã.
Foto de capa: Jaime Olivos
