Imagine uma cidade onde, até o fim do ano, o número de multas de trânsito seja quase igual ao de habitantes. Essa é a projeção assustadora para Belo Horizonte em 2025. Uma combinação de fiscalização intensificada da Guarda Municipal e uma explosão no número de radares colocou a capital mineira em um ritmo que pode gerar mais de 2,2 milhões de autuações no ano — para uma população de 2,4 milhões de pessoas.
O levantamento feito pelo Moon BH, que cruza dados oficiais e jornalísticos, acende o debate sobre a chamada “indústria da multa” na cidade.
O Raio-X da Arrecadação Milionária
Os números do primeiro semestre já dão a dimensão do cenário:
- Guarda Municipal: Aplicou quase 400 mil autuações.
- Radares + Guardas: Registraram 1.113.312 multas entre janeiro e junho.
- Arrecadação até agora: R$ 87,8 milhões em multas aplicadas no período.
A conta da projeção de “uma multa por habitante” se torna ainda mais plausível com a ativação de 22 novos radares em agosto, em avenidas de grande fluxo, o que deve impulsionar ainda mais esses números.
A Versão da Prefeitura: Segurança x Arrecadação
Enquanto o motorista sente o peso no bolso, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) defende a estratégia com base em dados de segurança.
A PBH sustenta que a fiscalização rigorosa é a principal responsável pela queda drástica na taxa de mortalidade no trânsito da capital nas últimas duas décadas. Para a gestão, os radares salvam vidas.
Análise: O Dilema da Cidade
A explosão de multas em BH expõe um dilema clássico. Para o cidadão, a sensação é de uma “indústria da multa” punitiva e arrecadatória. Para os gestores públicos, é uma ferramenta de segurança viária.
A verdade, provavelmente, está no meio do caminho. O grande desafio da prefeitura é provar ao belo-horizontino que o objetivo principal é, de fato, a segurança, e que a receita bilionária gerada por essa fiscalização está sendo reinvestida de forma transparente na melhoria da mobilidade urbana para todos.