Quando a moda escuta os saberes da floresta | ESG Post no Instagram da FARM sobre o vestido desenvolvido junto com as mulheres Yawanawá — Foto: Instagram FARM

Em 2026, a marca de roupas carioca FARM Rio entrará em seu oitavo ano consecutivo de parceria com artesãs dos povos originários da Amazônia Acreana, especialmente com as mulheres Yawanawá. A colaboração, que já foi comprovada em mais de 16,5 mil produtos cocriados e R$ 325,5 mil destinados a 180 artesãs de 15 aldeias, combina imersões criativas, troca de saberes e fortalecimento da autonomia feminina.

O mais recente marco dessa relação é o vestido cocriado para a exposição internacional “(re)weaving Amazônia”, em Londres, Reino Unido, inspirado no símbolo da cobra — representação de força e proteção — e no tradicional “rauti”, reafirmando a valorização estética e cultural dos saberes indígenas no design contemporâneo.

A peça é feita em crochê e traz elementos simbólicos da cultura Yawanawa e tem como referência a pele da cobra, evocando a força de um animal sagrado nas tradições deste povo. Os grafismos reinterpretam o rauti, adorno de miçangas tradicionalmente usado pelas mulheres da etnia, símbolo de beleza, proteção e conexão ancestral.

Post no Instagram da FARM sobre o vestido desenvolvido junto com as mulheres Yawanawá — Foto: Instagram FARM

O processo de criação, conta com Suelen Joner, líder de Sustentabilidade do Azzas 2154, grupo de moda dono de diversas marcas incluindo a FARM, começou em 2017. De lá para cá foram feitas imersões na aldeia Yawanawá, onde designers da marca e artesãs construíram juntos as primeiras referências visuais.

“Essas trocas valorizam os símbolos tradicionais e fortalecem o diálogo entre a cultura ancestral e o design contemporâneo”, explica Suelen. O detalhamento detalhado que as peças vão e voltam são algumas vezes possíveis até a aprovação coletiva.

Suelen Joner, chefe de Sustentabilidade do Azzas 2154 — Foto: Azzas 2154 / Divulgação
Suelen Joner, chefe de Sustentabilidade do Azzas 2154 — Foto: Azzas 2154 / Divulgação

Além da cocriação, a FARM Rio estabelece mecanismos formais para garantir o respeito à propriedade intelectual coletiva. “As parcerias seguem princípios de respeito e valorização dos saberes tradicionais, garantindo o reconhecimento da autoria coletiva das criações e a preservação da autonomia cultural da comunidade”, afirma a porta-voz.

A marca conta ainda com mediação especializada e contratos jurídicos para garantir contrapartidas e repartição justa de benefícios com o povo Yawanawa.

O impacto para as comunidades vai além da renda, de acordo com Suelen. A iniciativa, diz, reforça o protagonismo feminino, contribui para a conservação florestal e, em momentos de crise, garante apoio emergencial — como a residência de moradias e a compra de alimentos após as enchentes no Rio Gregório em 2024.

“Aprendemos que não existe um modelo único a ser replicado, mas princípios que podem ser adaptados: o diálogo constante, a valorização dos saberes tradicionais e o reconhecimento da autoria coletiva”, diz a executiva.

A FARM Rio mantém acompanhamento contínuo com as aldeias, o que permite ajustar ações e compreender os efeitos sociais e culturais da parceria ao longo dos anos, conta. Para a marca, a experiência com as mulheres Yawanawá demonstra que parcerias éticas exigem tempo, escuta ativa e profundo respeito às particularidades culturais.

Esses aprendizados agora orientam outras iniciativas de empresa com comunidades tradicionais, reforçando um modelo de moda que une cultura, sustentabilidade e propósito.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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