Entre as 10 maiores bacias hidrográficas do mundo, a da Amazônia ocupa o primeiro lugar — 7 milhões de km². Aliás, o Brasil é destaque entre os países com elevado potencial hídrico, com 12 grandes bacias no país. Mas o acesso à água potável não chega a todos os brasileiros. Pelo menos 34 milhões de pessoas não consomem água potável e 90 milhões não dispõem de coleta e tratamento de esgotos — uma realidade com forte impacto na saúde de todos, segundo dados do Instituto Trata Brasil (ITR).

Nessa parcela da população, estão os povos indígenas, hoje privados de água limpa devido à mineração sem os necessários cuidados para evitar a contaminação dos corpos hídricos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022, 1,1 milhão de indígenas (69,1%) moradores em domicílios particulares tinham abastecimento de água e ausência de saneamento básico. As dificuldades aumentam quando o território indígena é invadido pelos garimpeiros ou quando empresas de mineração ignoram as orientações técnicas que evitam impactos ambientais, inclusive nos rios e nas nascentes.

Os danos ambientais prejudiciais à vida são agravados pelos garimpos ilegais, como os que ocorrem nas terras indígenas. A tentativa de dominação do território Yanomami, em Roraima, pelos garimpeiros não é recente. Em 1984, ocorreu uma grande investida de garimpeiros ávidos de explorar a cassiterita. Na ocasião, a Polícia Federal e os militares da Aeronáutica intervieram para proteger as comunidades Yanomami, principalmente as próximas da Serra Surucucu, região rica em ouro e cassiterita. As tentativas de explodir pistas de pouso clandestinas e acampamentos dos invasores não surtiram o efeito esperado. Os garimpeiros não desistiram.

Entre 2023 e 2024, novas invasões ocorreram, causando graves problemas de saúde entre os Yanomami. O governo federal deslocou técnicos e equipes de saúde, em uma operação de emergência, ante a tragédia provocada pelos invasores. Apesar de todo empenho dos servidores da Saúde e da Fundação Nacional dos Povo Indígenas (Funai).foram registradas 865 mortes de 2023 até o ano passado.

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Exames feitos pelo Instituto Oswaldo Cruz constataram que 94% dos yanomamis de oito comunidades estavam contaminados pelo mercúrio. Esse metal polui os rios, e a ingestão da água e dos peixes deixa as pessoas vulneráveis a danos no sistema nervoso, problemas cognitivos e cardiovasculares, insuficiência renal e outros problemas que levam à morte. Além do mercúrio, a extração de metais pode deixar na água e no solo rejeitos ricos de arsênio, um elemento altamente tóxico, que pode provocar câncer de pele, pulmão, fígado e bexiga, além de lesões cutâneas e comprometimento vascular e cerebral.

Em situação semelhante, estão os Kayapó e os Munduruku, na Região Norte. Em Minas Gerais, Pankararu/Pataxó, de Araçuaí (MG), no Vale do Jequitinhonha, sofrem com a falta de água potável.

Mas é imperativo que o poder público estabeleça políticas de proteção aos povos originários e tradicionais e ao patrimônio ambiental, não ao que tange à exploração, mas também aos descartes dos rejeitos nocivos às pessoas e contaminantes principalmente dos cursos d’água.. Uma tarefa que exige fiscalização ostensiva do cumprimento das normas fixadas. A água potável é alimento indispensável à vida.


By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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