O proTEJO – Movimento pelo Tejo considera a estratégia “Água que nos une” um desastre ecológico e social, com medidas que favorecem o crescimento dos setores do agro-negócio, da banca, da construção civil e do imobiliário.
A estratégia nacional “Água que nos une”, apresentada no domingo pelo Governo, prevê a construção de novas barragens, redução de perdas nos diferentes sistemas e, como último recurso, interligação entre bacias hidrográficas.
“Água que nos une” conta com quase 300 medidas a implementar (algumas vão até 2050) e prevê um aumento da eficiência, através da redução de perdas de água nos sistemas de abastecimento público, agrícola, turístico e industrial, a utilização de água residual tratada, a otimização de barragens e a construção de novas.
Hoje, em comunicado, no dia em que se celebra o “Dia Internacional de Ação Contra as Barragens, pelos Rios, pela Água e pela Vida”, o proTEJO – Movimento pelo Tejo considera que a estratégia apresenta uma visão de curto prazo.
No entendimento do movimento, esta “estratégia é essencialmente apressada, eleitoralista, economicista e megalómana face à circunstância de um Governo demissionário cujas propostas estão objetivamente focadas, em termos de prazos de execução no curto prazo, na construção de inúmeras novas infraestruturas hidráulicas (barragens, transvases e açudes) que conduzem a um desastre ecológico e social”.
De acordo com o proTEJO, a construção de novas infraestruturas apresenta “um risco elevado de ficarem rapidamente subutilizadas sem o retorno económico esperado,
Salienta que as construções não foram consensualizadas com a sociedade portuguesa e com as pessoas que vão ser diretamente afetadas”.
Considera igualmente que a estratégia não concilia os valores económicos com os valores ecológicos e sociais, por não assegurar nem a sustentabilidade económica de médio e longo prazo, nem a sustentabilidade ambiental
Segundo o movimento, os “transvases de ligação de bacias hidrográficas distintas, nomeadamente, do Douro e do Mondego para o Tejo e do Tejo para o Guadiana com as denominadas “autoestradas da água” (ex: ligação Sabugal-Meimoa), vão afetar populações e degradar, destruir e fragmentar habitas” e “vão permitir a transferência de poluição e de espécies entre estas bacias provocando alterações nos seus ecossistemas”.
Na opinião do proTEJO, a construção de barragens e açudes altera a dinâmica e limita a conectividade fluvial dos rios, destruindo a biodiversidade pela afetação dos habitats e das condições de sobrevivência das diversas espécies.
O movimento realça também que os “contribuintes serão obrigados a pagar mais de 3 biliões de euros (3.174 ME) para novas infraestruturas hidráulicas (barragens, transvases e açudes) e manutenção das existentes, mais de metade do investimento total previsto (+ de 55% de 5 biliões de euros) quando tinha sido definido, nas prioridades da estratégia, que estas infraestruturas seriam um último recurso”.
A estratégia, segundo o proTEJO está orientada para o aumento do regadio (30%) com maior consumo de água e não para satisfazer as atuais e futuras necessidades das populações com as disponibilidades de água que ali existem.
O proTEJO diz ainda que “ficaram esquecidas medidas estratégicas cujo impacto se prolonga em prazos mais ou menos longos, nomeadamente, as soluções de engenharia natural e as que promovem o restabelecimento de zonas húmidas e a infiltração da água nos solos, como sejam, uma floresta com maior biodiversidade, a adaptação das culturas agrícolas às alterações climáticas e o incentivo para uma agricultura regenerativa”.
LUSA