A Argentina está apostando pesado nas exportações de petróleo bruto e GNL, com bilhões de dólares em investimentos em up e midstream vinculados à formação de xisto de Vaca Muerta.
Nesse contexto, os agentes da indústria estão concentrando seu foco na extração de líquidos de gás natural (LGNs), uma necessidade técnica e uma grande oportunidade de negócios.
Entre elas está a Pluspetrol, que deve tomar uma decisão de investimento em um projeto de líquidos de Vaca Muerta de aproximadamente US$ 2 bilhões, conforme afirmaram os palestrantes de um webinar organizado pela plataforma de negociação de gás Megsa.
O projeto está em fase de engenharia, segundo o diretor de desenvolvimento de negócios da Pluspetrol, Sergio Cavallin. A empresa estima que a Argentina pode gerar uma receita anual de mais de US$ 5 bilhões com a exportação de LGNs.
A Pluspetrol, que está desenvolvendo o projeto com a estatal YPF, planeja uma planta modular de processamento de Vaca Muerta, um poliduto central de LGNs e uma planta modular de fracionamento na costa atlântica.
“A ideia é tomar uma decisão final de investimento até o final do ano, na parte básica do projeto. Primeiro, precisamos abordar a situação em que nos encontramos, onde precisamos, aconteça o que acontecer, ter gás com a especificação correta”, disse Cavallin à BNamericas.
O objetivo é “lançar o projeto no início do próximo ano e deixá-lo pronto para 2029”, acrescentou. Isso envolveria a instalação de infraestrutura modular que posteriormente poderia ser expandida.
Os produtos iniciais visados são propano, butano e gasolina natural, com a produção de etano vista como uma opção futura atraente.
“Inicialmente, Pluspetrol e YPF seriam as carregadoras. É claro que estamos totalmente abertos a outras carregadoras que adicionem volumes ao projeto”, explicou Cavallin.
A Pluspetrol pode solicitar os benefícios do Regime de Incentivos a Grandes Investimentos do governo argentino, conhecido como Rigi, na categoria de projeto estratégico de exportação de longo prazo, ou PEELP.
Cavallin também explicou que há oportunidades para terceiros se envolverem em outros elos da cadeia de valor e que um objetivo estratégico era fornecer um serviço para toda a indústria local upstream. “O verdadeiro desafio é construir consenso, alinhar interesses e distribuir os lucros de forma equitativa. Se conseguirmos isso, Vaca Muerta não será apenas um motor de crescimento, mas um dos empreendimentos energéticos mais competitivos do mundo.”
Do jeito que as coisas estão, tudo seria exportado, dada a capacidade local limitada de absorver uma produção maior.
Por que LGNs?
Visando dar suporte à maior produção planejada de hidrocarbonetos e garantir que o gás atenda aos padrões e esteja pronto para a produção de GNL, é necessária maior capacidade de processamento.
A produção de LGNs também constitui uma oportunidade de negócio lucrativa, já que pode aumentar o fluxo de caixa livre em até 35%, segundo informações do evento.
As chamadas janelas de petróleo e transição de Vaca Muerta oferecem potencial para criar valor, dada a concentração relativamente alta de LGNs no gás. E é aí que estão localizados os principais ativos da Pluspetrol, incluindo La Calera e Bajo del Choique-La Invernada.
“Todas as nossas áreas, ou quase todas, ou pelo menos as mais importantes, estão na zona de transição. Ou seja, a Pluspetrol tem a matéria-prima”, disse Cavallin.
Espera-se que Bajo del Choique e La Calera impulsionem o crescimento da produção da Pluspetrol para mais de 140 MMboe/d até 2027, ante cerca de 50 MMboe/d atuais, disse a agência de classificação Moody’s em um relatório recente.
A agência de classificação Fitch estima que a Pluspetrol investirá US$ 1 bilhão em neste ano. Na Argentina, a Pluspetrol tem 14 licenças de extração e é a quarta maior operadora de petróleo e a sexta maior em gás. Em Bajo de Choique e La Calera, “nossa perspectiva de investimento e aumento de produção é forte”, destacou Cavallin. “Estamos em zonas realmente prolíficas, muito produtivas.”
A Pluspetrol é uma das partes interessadas no projeto de terminal do oleoduto Vaca Muerta Sur, liderado pela YPF, que está em construção e deverá estimular a produção e gerar gás associado.
GNL
A Argentina poderá produzir até 30 Mt/a (milhões de toneladas por ano) de GNL por volta de 2030, uma taxa que exigiria um enorme aumento na produção de gás, potencialmente em cerca de 100 MMm³/d (milhões de metros cúbicos por dia).
Atualmente, a produção de gás natural na Argentina está próxima de 137 MMm³/d.
Perspectiva global para LGNs
Em termos globais, enquanto a demanda geral por petróleo deve cair, o uso de LGNs como matéria-prima industrial deve aumentar.
“O desenvolvimento deste tipo de projeto alinha, de alguma forma, Vaca Muerta com este mercado de crescimento previsto”, afirmou Cavallin, acrescentando que este fluxo de receita adicional tornaria o setor upstream local mais resiliente.
A Ásia é o maior consumidor mundial de matérias-primas petroquímicas e um grande importador. Hoje, os EUA fornecem etano para o mundo e as tensões comerciais com a China podem abrir uma janela de oportunidade para a Argentina.
“A Argentina tem a chance de se tornar a segunda maior fornecedora mundial de etano graças ao desenvolvimento de Vaca Muerta e projetos como este”, complementou o executivo. Além disso, “o etano tem que ser parte da solução para este tipo de projeto de Vaca Muerta porque é parte do valor agregado”.
O etano é um componente comum de produtos petroquímicos. “Também há expectativas de que o preço no futuro será significativo, muito mais alto do que é hoje”, disse.
Outros projetos de LGNs
A empresa argentina de midstream TGS, cuja licença de serviço público foi estendida por 20 anos esta semana, tem um projeto de LGNs de US$ 2,5 bilhões na prancheta.
A empresa também afirmou anteriormente que estava considerando converter a infraestrutura de condicionamento de gás para extrair GLP. A TGS vem aumentando a capacidade de sua planta de Tratayén, na província de Neuquén, para 29 MMm³/d.
A empresa, que transporta cerca de 60% do gás consumido na Argentina, atualmente produz LGNs em seu complexo General Cerri, em Bahía Blanca, província de Buenos Aires. Além disso, é responsável por cerca de 28% da produção de GLP e 41% da produção de etano do país.
Já a Mega, que hoje processa cerca de 40% do gás da bacia de Neuquén, está executando um projeto de US$ 800 milhões em três fases que visa aumentar a capacidade de fracionamento em sua unidade industrial de Bahía Blanca em 50%. Na fase atual, a capacidade de líquidos deverá aumentar de 4.650 para 5.450 t/d (toneladas por dia) em 2026.
Nas fases subsequentes, a produção deverá atingir 6.600 t/d a partir de 2028, antes de chegar a 7.400 t/d. Em um relatório de junho, a SCR, uma afiliada da Fitch, afirmou que o conselho da Mega estava ponderando as FIDs.
Principal produtora de etano da Argentina, a Mega é de propriedade conjunta de YPF (38%), Petrobras (34%) e Dow (28%). A planta de Bahía Blanca é alimentada por um poliduto de 600 km que a conecta à planta de separação de Loma La Lata, onde os líquidos são extraídos e o gás residual é injetado na rede de gás.