O túnel submerso que ligará Santos e Guarujá representa um marco na infraestrutura nacional. Avaliada em R$ 6 bilhões, a obra tem potencial para gerar 9 mil empregos e aliviar o trânsito na região. No entanto, o empreendimento trará impactos ambientais significativos, como o desmatamento de 105 mil metros quadrados de Mata Atlântica, além de riscos à vida marinha e à qualidade da água.
Impacto ambiental e desmatamento
De acordo com o Relatório de Impacto Ambiental (Rima), elaborado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), a construção do túnel exigirá a remoção de 105 mil metros quadrados de vegetação nativa, incluindo 44 mil metros quadrados de manguezais em áreas protegidas. Essas regiões são essenciais para a biodiversidade e funcionam como barreiras naturais contra erosões e mudanças climáticas.
A retirada dessa vegetação pode afetar diretamente espécies que dependem dos mangues para alimentação e reprodução, como as tartarugas-verdes (Chelonia mydas). Além disso, a interferência no ecossistema pode prejudicar atividades econômicas locais, como a pesca e o turismo ecológico.
Ameaça à vida marinha
A dragagem do leito marinho para instalação do túnel pode suspender sedimentos contaminados, acumulados por décadas de despejo industrial na região. Isso aumentaria a turbidez da água e representaria um risco à fauna marinha. Botos, golfinhos e baleias podem sofrer com a poluição e o aumento de colisões com embarcações devido à baixa visibilidade.
Além disso, a contaminação da água pode comprometer a balneabilidade das praias de Santos e Guarujá, impactando diretamente o turismo e o lazer dos moradores.
Poluição e interferência na qualidade de vida
O relatório também alerta para o aumento dos níveis de poluição do ar e da água durante a obra. O transporte de materiais e as atividades de escavação gerarão poeira e resíduos químicos, elevando a emissão de poluentes como dióxido de nitrogênio (NO2) e dióxido de enxofre (SO2), que podem afetar a saúde da população.
O barulho intenso e as vibrações causadas pelas máquinas também são motivo de preocupação. Segundo o estudo, esses fatores podem gerar desconforto para os moradores e até comprometer a estrutura de imóveis próximos à obra.
Riscos para o lençol freático
Outro problema destacado no relatório é o risco de contaminação do lençol freático. Os sedimentos retirados durante a dragagem podem conter metais pesados que, ao serem reintroduzidos no ambiente, podem infiltrar-se no solo e afetar a qualidade da água subterrânea. Esse impacto pode ser duradouro e afetar o abastecimento de água da região.
A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) será responsável por monitorar e fiscalizar as condições ambientais da obra para minimizar esses riscos.
Impactos na logística portuária
Durante a construção do túnel, haverá interdições temporárias no Canal do Estuário, afetando diretamente as operações do Porto de Santos, o maior da América Latina. O redirecionamento de cargas para outros portos pode gerar custos adicionais para empresas e afetar o fluxo de mercadorias essenciais para a economia do país.
O futuro do projeto
O Relatório de Impacto Ambiental foi elaborado por um grupo multidisciplinar de especialistas e segue em análise pela Cetesb. A Secretaria de Estado de Parcerias e Investimentos declarou que as audiências públicas e estudos técnicos continuarão sendo avaliados antes da liberação definitiva do projeto.
Diante dos impactos ambientais e sociais da obra, surge a questão: até que ponto vale a pena comprometer ecossistemas e a qualidade de vida da população em nome do desenvolvimento? Alternativas sustentáveis poderiam minimizar os danos sem inviabilizar a mobilidade na região? O debate sobre esse projeto continua e exige a participação de especialistas, ambientalistas e da sociedade civil.
[Fonte: Click Petroleo e Gas]