O mais recente artigo científico sobre a contaminação por plástico na Macaronésia destaca a praia de Porto Pim, no Faial, como um dos principais pontos críticos de microplásticos no Atlântico Norte, consequência da acumulação de detritos transportados pelas correntes oceânicas. O estudo foi realizado no âmbito do projecto IMPLAMAC, com base em três anos de monitorização de 46 praias distribuídas pelos quatro arquipélagos.
O artigo científico intitulado “Presença de plástico na Macaronésia: três anos de monitorização em quarenta e seis praias de dezanove ilhas de uma região atlântica” foi publicado este mês. O estudo resulta do esforço conjunto dos quatro arquipélagos da Macaronésia e foi desenvolvido no âmbito do projecto IMPLAMAC, do qual a Secretaria Regional do Mar e das Pescas, através da Direcção Regional de Políticas Marítimas (DRPM), foi parceira.
O projecto teve como objectivo criar um observatório capaz de gerar dados quantitativos e qualitativos sobre o impacto de microplásticos e de diversos poluentes nas praias dos arquipélagos das Canárias, Cabo Verde, Madeira e Açores. Para tal, foi implementado um programa de monitorização de microplásticos e de diferentes poluentes nas areias e águas das praias dos quatro arquipélagos, permitindo identificar o grau de contaminação existente e a sua evolução. Foram igualmente realizados estudos sobre a incidência de microplásticos em determinados grupos de peixes e os seus efeitos nas cadeias alimentares e nos ecossistemas. Contemplou ainda o reforço do conhecimento público sobre a contaminação por plásticos, através de acções de sensibilização, divulgação, formação e educação ambiental sobre os espaços marinhos dos quatro arquipélagos.
Este trabalho também contribuiu directamente para o programa de monitorização de microplásticos nas praias da Região Autónoma dos Açores e para o reporte da Região à Directiva-Quadro Estratégia Marinha (DQEM).
O projecto IMPLAMAC, que decorreu entre 2019 e 2023, foi financiado através do Programa de Cooperação Interreg MAC 2014-2020.

Praia de Porto Pim como ponto
de acumulação de microplásticos

Entre 2020 e 2023, foram monitorizadas sazonalmente 46 praias em 19 ilhas de quatro arquipélagos da Macaronésia, com o objectivo de avaliar os níveis de poluição por plástico. Os resultados demonstram que todos os arquipélagos estão expostos a plásticos fragmentados com formas, cores e tamanhos semelhantes, e que a localização dos “hotspots” de poluição é fortemente influenciada pelas correntes associadas à Giro Subtropical do Atlântico Norte, que transporta e concentra detritos plásticos em toda a região. Entre os principais hotspots identificados, destaca-se a praia de Porto Pim, no Faial, pela elevada densidade de plásticos, embora algumas praias das Canárias apresentem valores ainda superiores.
A monitorização de 28 praias anteriormente não estudadas revelou a presença de cinco novos pontos críticos de chegada de plástico. A análise estatística mostrou que as praias orientadas entre noroeste e leste apresentavam maiores concentrações de lixo plástico do que as orientações opostas. Contudo, no grupo central dos Açores foi identificado um ponto crítico significativo numa praia virada a sudoeste. Estes padrões espaciais reflectem de forma evidente a influência das correntes oceânicas predominantes associadas ao Giro Subtropical do Atlântico Norte, que desempenha um papel essencial no transporte e acumulação de detritos plásticos em toda a região. Estes resultados contribuem para uma melhor compreensão dos fenómenos de transporte de plástico numa vasta região oceânica como a Macaronésia e fornecem uma base sólida para futuros estudos noutras áreas.
O arquipélago com maior concentração de microplásticos foi o das Canárias, com uma média de 3142 ± 5430 itens/m², seguido dos Açores, com 1107 ± 2270 itens/m², e, por fim, de Cabo Verde e Madeira, com 159 ± 204 e 64 ± 39 itens/m², respectivamente.
De um modo geral, as praias viradas entre noroeste e leste tenderam a receber uma maior concentração de lixo marinho do que as orientadas entre sudeste e oeste, quer em itens/m² quer em massa/m². No entanto, em alguns casos, as maiores concentrações foram registadas em praias com orientação sudoeste.
Os investigadores relatam que para compreender este padrão, é necessário considerar as correntes oceânicas que influenciam cada arquipélago: “As Canárias são influenciadas pela fria Corrente das Canárias, proveniente do nordeste, que tende a favorecer a acumulação de detritos plásticos nas praias viradas a norte. Em contraste, o arquipélago dos Açores é afectado principalmente pela Corrente dos Açores, proveniente de oeste, que também influencia sazonalmente a Madeira. Já Cabo Verde situa-se na extremidade oriental do Giro Subtropical do Atlântico Norte e perto do limite sul da Corrente das Canárias, deslocando-se para sudoeste perto do Cabo Branco (Mauritânia) para contribuir para a formação da Corrente Equatorial Norte”, lê-se no estudo.
O sistema de correntes de cada arquipélago, conjugado com a geografia das ilhas e a fisiografia das praias estudadas, explica porque é que algumas zonas registam uma deposição de microplásticos muito superior a outras. É o caso da praia de Porto Pim, nos Açores, orientada a sudoeste, identificada como um ponto crítico de acumulação de microplásticos.
O estudo afirma a importância de salientar que os valores de contaminação recolhidos neste estudo, tal como na maioria dos estudos anteriores realizados na Macaronésia, dizem respeito apenas aos 5 cm superiores da areia. Diversos autores demonstraram que a poluição por plástico estende-se muito para além desta camada superficial. Há estudos que evidenciam a presença de microplásticos até profundidades de 1 metro, incluindo registos na praia de Porto Pim e na Praia das Milícias (São Miguel).
Do mesmo modo, os pontos críticos correspondem a locais onde se acumula uma grande variedade de resíduos de plástico, não se limitando aos microplásticos convencionais. Várias novas formas de poluição por plástico, descritas pela comunidade científica na última década, foram igualmente detectadas nas praias da Macaronésia.

271.203 artigos recolhidos, pesados
e classificados na Macaronésia

De acordo com o estudo, nas últimas décadas a poluição por plástico atingiu níveis alarmantes em todos os compartimentos ambientais do planeta, sendo os oceanos dos mais afectados. Apesar de estar afastada de grandes fontes directas de poluição, a região da Macaronésia (Oceano Atlântico Norte) encontra-se altamente exposta ao lixo marinho, sobretudo plástico. Neste trabalho, um total de 46 praias em 19 ilhas de quatro arquipélagos da Macaronésia foi monitorizado sazonalmente entre 2020 e 2023, num total de 430 expedições de campo, com o objectivo de estudar a presença e a extensão da poluição por micro, meso e macroplásticos. No total, 271.203 artigos de plástico foram recolhidos, pesados e classificados segundo o seu tamanho, forma, cor e composição química.
De acordo com a investigação, projecto IMPLAMAC forneceu informação essencial para compreender melhor o destino e a distribuição dos resíduos plásticos ao longo da costa da Macaronésia, demonstrando que as ilhas oceânicas, em particular os arquipélagos que compõem esta região, constituem pontos estratégicos para o estudo da deriva plástica oceânica. A monitorização detalhada e de longo prazo dos resíduos encalhados, a diferentes níveis ao longo da costa, pode ser uma ferramenta eficaz para avaliar as alterações na quantidade e composição dos resíduos plásticos no Oceano Atlântico ao longo do tempo.

José Henrique Andrade

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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