O Brasil é tão grande que uma mesma fruta pode receber nomes diferentes, dependendo da região. No Rio Grande do Sul, ela é chamada de bergamota. No Paraná, mimosa. No Sudeste, mexerica. O que não muda é o perigo que as lavouras enfrentam hoje, por causa de uma praga.

Em Campanha, no sul de Minas Gerais, um inimigo de poucos milímetros ameaça pomares de tangerina do tipo ponkan, uma das principais fontes de renda dos produtores rurais. A causa é o psilídeo, inseto vetor do greening, doença que transmite uma bactéria capaz de comprometer folhas, raízes e frutos. O resultado é devastador: árvores que definham, frutas que não crescem e um cenário de perdas irreversíveis.

“Ele é um inseto sugador, que adquire a bactéria em uma planta e a transmite para outra, como o Aedes aegypti faz com o vírus da dengue. Praticamente o processo é o mesmo: tem a doença e tem o vetor”, explica o engenheiro agrônomo José Maria.

Muitas vezes, a única solução é erradicar os pés contaminados. “Entre seis meses e um ano após a infecção, começam a aparecer os primeiros sintomas. A planta amarela, os frutos se deformam, principalmente na variedade ponkan. Os vasos ficam entupidos, como se fosse colesterol, e a planta entra em falência”, detalha o agrônomo.

O produtor Rafael Arcuri lembra com tristeza da lavoura iniciada há 24 anos. “Começamos a conviver com a doença em 2007. No início, arrancávamos os pés doentes e continuávamos produzindo. Mas em 2023 e 2024 a situação explodiu, com até 90% de contaminação. As frutas ficaram deformadas, sem valor comercial. A solução é arrancar e partir para outra.”

Perda gigantesca da safra

Relatórios do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) indicam que, se nada for feito, Campanha pode perder 70% da safra já em 2025 e até 90% nas colheitas de 2026 e 2027. A estimativa deste ano, de 34,5 mil toneladas de tangerina ponkan e outras variedades, corre o risco de ser a última a registrar crescimento.

Segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater), o município tem 2 mil hectares plantados de ponkan. Destes, 150 precisam ser erradicados imediatamente, número que pode aumentar nos próximos meses com a confirmação de novas áreas contaminadas. Diante do avanço, a prefeitura decretou emergência fitossanitária.

“Esse decreto foi baseado em relatórios técnicos do IMA, da Emater e da Defesa Civil, que classificou o caso como desastre biológico. O objetivo é garantir suporte jurídico para ações de erradicação e também melhores condições de renegociação de dívidas com os bancos, além de incentivar a diversificação da produção para reduzir o impacto econômico na cidade”, explicou o secretário de Governo, Nicolas Dinamarco.

Sem alternativa, produtores já começam a substituir a ponkan por outras culturas. Rafael planeja plantar 13 hectares de café e 10 hectares de abacate. Mas sobre o futuro da tangerina, ele faz um desabafo: “Infelizmente, se não surgir uma cura ou algum controle eficaz, acabou mesmo. Aqui na região, já era.”

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By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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