São camadas de cinzas, areia grossa, pó vulcânico e fragmentos rochosos de explosões constantes ao longo de séculos. O solo do Monte Rinjani, na ilha de Lombok, na Indonésia, tem características que o tornam extremamente instável. É como uma areia fofa, cheia de pedras de diversos tamanhos, especialmente na área do penhasco próxima à borda da caldeira, onde a brasileira Juliana Marins, de 26 anos, caiu e morreu, após ficar quatro dias esperando resgate. O risco, no entanto, coabita com a paisagem cercada por cadeias de montanha, e um lago na cratera do vulcão, atraindo, diariamente, centenas de turistas de diversos lugares do mundo.
Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra um grupo caminhando em um trecho da trilha, um pouco depois da área onde Juliana caiu. Ao pisar, o pé afunda e desliza com facilidade, exigindo o apoio de bastões de caminhada. O autor do vídeo, Lucas Vencio, gravou o trecho na viagem que fez em novembro do ano passado, e relatou: “É uma trilha que exige muito. No meu caso, foram dois dias intensos de subida e descida em um frio de -5 °C lá no topo”.
O vulcão Rinjani vem tendo erupções desde a Idade Média. Dos anos 2000 até hoje, foram quatro explosões: 2004, 2009, 2010, e a última, em 2016. A cratera principal tem cerca de 8 quilômetros de extensão. Quando chove, a lama de lahar (uma mistura de água, cinzas vulcânicas, rochas e gelo, que se move rapidamente montanha abaixo) provocam erosão, que formam escarpas abruptas e inclinadas.

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“Desde o século 19, com as erupções, não deu tempo de formar solos estáveis, e essa sucessão de explosões desestabiliza muito o solo, tornando as trilhas instáveis. O solo é composto por camadas de cinza vulcânica e rocha pulverizada, que se fragmentam em diferentes tamanhos, desde um pó fino até grãos de arenosos e pedras”, afirma Renato Ramos, geólogo do Museu Nacional.
Segundo ele, as condições extremas, como nevoeiro, altitude de 3.700 metros, trilhas íngremes e o frio, tornam as condições ainda mais desafiadoras, oferecendo risco inclusive para as equipes de resgate.
A Indonésia tem mais de 100 vulcões ativos, e cerca de mil inativos. O país está na região do Cinturão de Fogo do Pacífico, também conhecido como Círculo de Fogo — uma área em forma de ferradura ao redor do Oceano Pacífico onde ocorre a maioria dos terremotos e atividade vulcânica do mundo.
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“Os vulcões são diferentes entre si. No vulcão do tipo explosivo, como o Rinjani, são criadas muitas cinzas, o terreno fica muito arenoso e muito escorregadio, além de ser muito íngreme. Os vulcões no Havaí ou na Tailândia, por exemplo, já são muito diferentes, a lava é sólida, não explode como os da Indonésia”, afirma Rosaly Lopes, vulcanóloga e cientista planetária, que atua no laboratório de produção a jato da NASA.
Como aconteceu o acidente de Juliana Marins?
Conduzidos por um guia local, Juliana Marins e outros turistas caminhavam por uma trilha ao cume do Monte Rinjani, na ilha de Lombok, na província indonésia de Sonda Ocidentel, cujo fuso horário local é 11 horas à frente do horário de Brasília. De acordo com a família, ela teria reclamado de cansaço e parado. O guia, então, teria seguido viagem, deixando a publicitária para trás, que acabou caindo em um desfiladeiro a 500 metros de profundidade. A jovem foi localizada por um drone na tarde de domingo (22).
De acordo com perfil oficial do Parque Nacional do Monte Rinjani, na Indonésia, “a vítima foi localizada com o uso de um drone, em posição presa a um paredão rochoso, a uma profundidade de aproximadamente 500 metros, e visualmente sem sinais de movimento às 6h30 (de segunda-feira (23) na Indonésia e 17h30 de domingo (22) no Brasil”.
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Autoridades da Indonésia detalharam na manhã da última segunda-feira como localizaram a brasileira Juliana Marins, que estava desaparecida após um acidente no vulcão do Monte Rinjani, o segundo mais alto do país. Informações publicadas no Instagram oficial do Parque apontam que a publicitária foi monitorada “com sucesso por um drone” e permanece presa em um penhasco rochoso a uma profundidade de cerca de 500 metros, “visualmente imóvel”.
Na manhã desta terça-feira, Juliana foi encontrada morta, após quatro dias presa na encosta de difícil acesso, sem água, comida ou abrigo. A confirmação foi feita pela família nas redes sociais.