No fim de semana estive na terra natal, Arroio do Meio, no Vale do Taquari. O município foi um dos mais castigados por três enchentes em 2023 e pela cheia história de 2024. Foram três desastres em sete meses.
Conversei com muitos amigos e com estranhos. Neste último grupo troquei ideias com um motorista de táxi/Uber. Com cerca de 40 anos, ele era bem articulado, de fala mansa e de gestos calmos.
No meio do bate-papo do trajeto que me levou ao hotel depois de uma confraternização entre amigos, chegamos ao tema “enchentes”. Ele contou que morava há poucos metros do rio Taquari, cujas águas sitiaram Arroio do Meio pelos quatro quadrantes.
Mas segredou que no momento estava feliz:
– Perdi praticamente tudo que tinha em casa, mas graças a Deus minha mãe voltou a morar comigo – comentou.
Explicou que desde a eclosão da histórica enchente a mãe fora transferida para um apartamento.
– Antes ela morava comigo, mas nos últimos meses ficou confinada em um apartamento. Foi um baita suplício. Ela sofreu muito, andava angustiada e não dormia direito. Eu já não conseguia trabalhar em paz de tanta preocupação – confessou.
Passado o desastre, o motorista resolveu reconstruir a casa aos poucos.
– Neste ano e meio desde a enchente aprendi a ser marceneiro, eletricista, encanador, instalador hidráulico e tudo mais que exigia conhecimento para consertar, remendar e instalar o que fosse necessário– contou.
Disse que ainda tinha muito a ser feito, mas aprendeu a ter paciência, pedir a ajuda de amigos e vizinhos, além de compartilhar o que tem disponível para ceder aos parceiros de infortúnio. Fiquei pensando no sofrimento, sacrifício e resiliência necessários para enfrentar o pós- enchente.
Acostumar-se às rasteiras da vida é um exercício de dor, angústia e pa-ecimento. O esforço de uma vida toda se esvai pelas águas caudalosas ao longo de vários dias de agonia com chuvas que foram inclementes. “Deus dá o frio conforme o cobertor” ou “Deus dá o fardo conforme a força”. São ditados que não trazem consolo àqueles que tudo perderam, em muitos casos, inclusive a esperança.
Nutro profunda admiração pelas pessoas que sofrem, mas caem, levantam e ainda ajudam seus semelhantes. Baita exemplo!
