A Secretaria do Meio Ambiente de Entre Ríos intensificou tarefas de monitoramento e controle hídrico após detectar uma mudança de coloração avermelhada no arroio El Espinillo, afluente do arroio Las Conchas, que deságua no Rio Paraná.

Embora as primeiras inspeções tenham descartado falhas operacionais no sistema de tratamento de Crespo, investiga-se se o fenômeno responde a processos biológicos vinculados a bactérias, ou se se trata de descargas industriais sem tratamento adequado.

Denúncia penal por contaminação ambiental: pedido de investigação federal

A Fundação Cauce e o Fórum Ecologista de Paraná apresentaram uma denúncia penal ao procurador federal Leandro Ardoy, solicitando:

  • Investigação por crimes ambientais segundo a Lei 24.051 de Resíduos Perigosos
  • Inspeções judiciais imediatas com coleta de amostras e perícias especializadas
  • Identificação de empresas nos parques industriais de Crespo e Paraná
  • Revisão de habilitações, controles e relatórios técnicos de organismos estatais
  • Testemunhos de vizinhos, cientistas e organizações sociais

“O objetivo é deter a degradação ambiental e garantir a proteção da água e a saúde pública das comunidades de Entre Ríos”, afirmaram as entidades.

Rio Paraná
Preocupa a situação do arroio El Espinillo e do Rio Paraná.

Evidências e antecedentes: águas tingidas e toxicidade extrema

O episódio de 26 de outubro foi registrado pela escola de caiaque “A Remarla” e divulgado por ERA Verde, mostrando águas avermelhadas no Paraje Calzada de Espinillo. Este fenômeno já havia ocorrido em 2022 e 2023, possivelmente vinculado ao transbordamento de lagoas de tratamento do Parque Industrial de Crespo.

Um estudo recente liderado por Rafael C. Lajmanovich (UNL-CONICET), publicado em Water Environment Research, analisou os arroios Las Conchas, Espinillo, Crespo e Las Tunas, detectando:

  • Níveis extremos de toxicidade incompatíveis com a vida aquática
  • Presença recorde de glifosato na América do Sul: 5.002 µg/kg de sedimento
  • Impactos acumulativos sobre girinos como indicadores de saúde ambiental

“Estão despejando resíduos cloacais e industriais em corpos de água com escasso poder de diluição. É uma zona de sacrifício ambiental”, advertiu Lajmanovich.

Críticas à gestão estatal e lacunas no monitoramento

A Secretaria do Meio Ambiente reconheceu que não implementou uma estratégia integral de monitoramento para a bacia do arroio Las Conchas, apesar de tê-lo anunciado em 2024.

Em resposta oficial de 22 de janeiro de 2025, admitiu que essa estratégia não foi incluída no Programa de Monitoramento de Bacias Hídricas (Resolução N° 869/24 SA).

Competência federal e urgência interjurisdicional

As organizações argumentam que o caso deve ser tratado no foro federal, dado que o rio Paraná e seus afluentes formam uma bacia interprovincial e internacional, com impactos que excedem a jurisdição de Entre Ríos.

Citamos o artigo 7 da Lei Geral do Meio Ambiente, que atribui competência federal em casos de contaminação com alcance regional.

Um chamado à ação: proteger o Rio Paraná como bem comum

A denúncia busca responsabilizar empresas e funcionários, exigir medidas concretas de remediação e promover uma gestão ambiental transparente e eficaz.

O Paraná, afirmam, é um bem comum essencial para a vida, e não pode continuar sendo receptor de resíduos industriais e agrotóxicos sem controle nem sanção.

Este caso expõe uma crise ambiental sustentada na bacia do Paraná, onde a falta de controle efetivo e a repetição de episódios contaminantes configuram uma situação de risco estrutural.

A resposta estatal e judicial será chave para restaurar a saúde hídrica, proteger a biodiversidade e garantir o direito à água de milhões de pessoas rio abaixo.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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